A Sombra do Passado: Reflexão sobre as Armasy 80 Anos depois
No dia 6 de agosto de 1945, um raio branco-azulado iluminou o céu de Hiroshima, sinalizando o início de uma nova era de destruição maciça. Setsuko Thurlow, então uma jovem de 13 anos, testemunhou o horror que se seguiu. ‘Vi o clarão na janela. Sentia-me flutuando. A onda de choque nos catapultou para o ar’, relata ela. A tragédia resultou em centenas de milhares de mortes e ferimentos, sequelas permanentes para muitos, incluindo câncer e deformidades causadas pela radiação. Este evento, embora datado de 1945, paira como um alerta eterno sobre o poder devastador das armas atômicas. Ao completar 80 anos, o mundo observa uma escalada das tensões nucleares, com investimentos recorde em armamentos desde a Guerra Fria.
O Legado de Hiroshima e Nagasaki
Os bombardeios sobre Hiroshima e Nagasaki deixaram um legado indelével. Milhares de armas atômicas foram fabricadas e ameaçam a humanidade até hoje. A Sra. Thurlow dedicou sua vida à luta pela abolição total de armas nucleares, tornando-se uma voz indomável. ‘Temos ainda 16.000 dessas armas. É uma loucura, um crime’, declarou ela.
Desde então, o Japão aderiu à ‘Constituição da Paz’, prometendo não mais travar guerras, e adotou Princípios Não Nucleares, rejeitando qualquer posse ou importação de armas atômicas. Cada 6 de agosto, o silêncio toca às 8h15 em memória dos mortos, um ritual que reforça o compromisso com a paz.
Corrida Armamentista Global: Um Desafio Crítico
O cenário atual é alarmante. O Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) relata que 2024 foi o ano com maior gasto em armamentos desde o fim da Guerra Fria. As potências nucleares, incluindo EUA, Rússia e China, intensificam a modernização de seus arsenais. O diretor do SIPRI, Dan Smith, alerta que a tendência de desarmamento nuclear está se revertendo, colocando o ‘desarmamento nuclear de longo prazo’ em risco.
A Rússia detém o maior número de ogivas nucleares, com 5.459, sendo Vladimir Putin um dos defensores mais notórios do uso dessas armas. Os Estados Unidos, com 5.177 ogivas, seguem-se. A escalada preocupou especialistas: ‘O mais perturbador é que, após décadas de redução, vemos sinais claros de reversão’, enfatizou Smith.
Japão e Alemanha: Trajetórias Contra as Armasy
O Japão, profundamente atingido pela armas atômicas, demonstra uma postura inequívoca contra o armamento nuclear. Takuma Melber, historiador especialista em Japão, destaca o ‘evento de memória cultural central’ que as cerimônias de Hiroshima representam. ‘O apelo por ‘guerra nunca mais’ permeia o discurso japonês, mostrando um país comprometido com a paz global’, analisa.
A Alemanha, embora tecnicamente não detenha armas nucleares, participa do ‘compartilhamento nuclear’, com base na ideia de que poderia usar armas americanas armazenadas em bases como Büchel. No entanto, essa situação levanta questões éticas: ‘Se não são donos, realmente têm influência?’, questiona Nico Lange.
O Desafio de Interrupção da Corrida Nuclear
Frente a esse cenário, a urgência de interromper a corrida nuclear torna-se imperativa. O Japão, embora minoritariamente considerar a possibilidade de adquirir armas nucleares, reforça a posição contrária. Políticos alemães e japoneses, como Jens Spahn, discutem a necessidade de participação europeia no arsenal nuclear, mas o consenso ainda não é alcançado.
A lição de Hiroshima permanece: a humanidade deve agir com determinação para evitar repetir os erros do passado. A voz das testemunhas, como Setsuko Thurlow, ecoa com clareza: ‘Não vou parar nunca de explicar. Precisamos interromper esse processo’. Desarmamento nuclear não é mais uma opção; é uma necessidade absoluta para a sobrevivência coletiva.