O voo AF447 da Air France, que caiu no Oceano Atlântico em 2009, resultando na morte de 228 pessoas, continua sendo um dos acidentes aéreos mais debatidos da história. Agora, a Air France e a Airbus enfrentam um novo capítulo judicial com o início de um julgamento de recursos em Paris, após terem sido absolvidas da acusação de homicídio culposo em primeira instância.
Detalhes do acidente do voo AF447
Em 1º de junho de 2009, o Airbus A330, que operava o voo AF447 entre o Rio de Janeiro e Paris, desapareceu enquanto sobrevoava o Oceano Atlântico. A aeronave levava a bordo 228 pessoas, de 33 nacionalidades diferentes. A tripulação era composta por 11 franceses e um brasileiro. Além disso, passageiros de diversos países, como França, Brasil, Espanha e Argentina, estavam a bordo.
Investigação e descobertas
Após dias de buscas, fragmentos da aeronave, incluindo partes com a identidade visual da Air France, foram recuperados. No entanto, a fuselagem só foi localizada dois anos depois, a uma profundidade de 3.900 metros. As caixas-pretas revelaram que a causa principal do acidente foi a falha no congelamento das sondas de velocidade Pitot, o que desorientou a tripulação, impossibilitando a interrupção da queda da aeronave.
Julgamento de primeira instância
Em abril de 2023, o tribunal correcional de Paris absolveu a Air France e a Airbus da acusação de homicídio culposo. Apesar disso, ambas foram consideradas responsáveis civilmente. O julgamento de primeira instância reconheceu a existência de falhas nas empresas, mas não estabeleceu um vínculo causal direto com o acidente. A Procuradoria-Geral decidiu recorrer, alegando a necessidade de um aprofundamento legal.
Portanto, a partir de 29 de setembro, um novo julgamento de dois meses será realizado em Paris, com previsão de término em 27 de novembro. A cada empresa pode ser aplicada uma multa de 225.000 euros (equivalente a 263.000 dólares ou 1,4 milhão de reais).
Questões técnicas em foco
Um dos principais pontos de debate é o treinamento de pilotos da Air France. A empresa é acusada de não preparar adequadamente a tripulação para lidar com situações de falha nas sondas de velocidade. Além disso, a Airbus é alvo de críticas por supostamente subestimar a gravidade da falha e não informar com urgência as companhias aéreas sobre os riscos associados às sondas anemométricas.
No entanto, ambas as empresas negam qualquer irregularidade criminal. A Air France afirma que não cometeu nenhum crime que tenha causado a tragédia. A Airbus, por sua vez, reforça seu compromisso com a segurança aérea e afirma que cooperará plenamente com o julgamento de recursos.
Repercussão emocional e jurídica
Das 489 partes civis que participaram do julgamento de primeira instância, 281 aderiram ao recurso. A luta por justiça dividiu opiniões. Enquanto alguns familiares procuraram seguir em frente, outros se mantiveram firmes na busca por um veredicto mais condenatório. Em depoimento, o advogado Alain Jakubowicz destacou que a insistência de alguns familiares visa garantir a verdade e a justiça plena.
Portanto, a nova fase do julgamento promete trazer à tona, novamente, a complexidade de um caso técnico com profundas implicações humanas. A agenda provisória indica que as primeiras semanas serão dedicadas às audiências de testemunhas e peritos, com o interrogatório das empresas marcado para a partir de 27 de outubro.
Em conclusão, o voo AF447 permanece como um marco de investigação técnica e de busca por responsabilização, ilustrando a tensa relação entre a aviação comercial e a segurança pública. O resultado desse julgamento de recursos será decisivo para a percepção de justiça das vítimas e para a evolução dos protocolos de segurança aérea.
