Defesa Contra Drones: A Estratégia Multifacetada da Alemanha Para Neutralizar a Ameaça Aérea

Explore a estratégia da Alemanha para sua defesa contra drones, incluindo novos equipamentos, mudanças na doutrina militar e lições da Ucrânia.

Defesa Contra Drones: Um Desafio de Segurança Nacional para a Alemanha

A defesa contra drones tornou-se uma prioridade máxima de segurança nacional na Alemanha. Recentemente, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, admitiu publicamente que o país, assim como outras nações da OTAN, está “mancando” nesta frente. Essa admissão surge após uma série de violações do espaço aéreo por drones não identificados, que causaram transtornos significativos, incluindo o fechamento repetido do aeroporto de Munique. Portanto, o governo alemão está mobilizando um conjunto abrangente de medidas para sanar essa vulnerabilidade crítica.

Os Obstáculos Atuais na Defesa Contra Drones

A Alemanha enfrenta desafios imediatos em sua defesa contra drones. Primeiramente, existe uma clara lacuna de equipamentos especializados. Abater um drone de pequeno porte com um caça a jato, como fez a Polônia, é uma opção tecnicamente viável, mas é extremamente dispendiosa e arriscada sobre áreas populosas. Além disso, a solução ideal para essa tarefa – sistemas terrestres como o tanque antiaéreo Skyranger 30 – ainda não está plenamente disponível. Apesar de uma encomenda de 19 unidades, sua entrega só começará em 2027, e especialistas já alertam que o número é insuficiente.



Uma Questão de Jurisdição e Responsabilidade

No entanto, o problema vai além do hardware. Um obstáculo fundamental é a divisão constitucional de responsabilidades. As Forças Armadas são encarregadas de defender o país contra ameaças externas. Por outro lado, a segurança interna, incluindo a resposta a drones que ameaçam infraestruturas civis, cabe às polícias dos 16 estados. Essa fragmentação dificulta uma resposta rápida e coordenada, tornando a criação de um “domo” de defesa contínuo algo considerado pouco realista pelos analistas.

O Plano Estratégico Alemão: Tecnologia e Coordenação

Para superar esses desafios, a Alemanha está implementando um plano multifacetado. O governo pretende modificar as regras de atuação, permitindo que os militares auxiliem as polícias estaduais em situações específicas, como o abate de drones sobre áreas sensíveis. Além disso, o ministro do Interior, Alexander Dobrindt, propõe a criação de um centro de comando centralizado para coordenar toda a defesa contra drones em nível nacional.

Simultaneamente, o país está acelerando drasticamente sua aquisição de tecnologia. Isso inclui não apenas sistemas defensivos, como bloqueadores de sinal e drones de interceptação que capturam outros drones com redes, mas também drones ofensivos. A aquisição de “drones kamikaze” ou “munição de espera” (Loitering Munition) marca o início de uma nova era para as Forças Armadas alemãs, que tradicionalmente relutavam em empregar tais armas.



A Lição Crucial da Ucrânia

Acima de tudo, a guerra na Ucrânia serve como um catalisador e um manual prático. O conflito demonstrou de forma incontestável que os drones revolucionaram a guerra moderna. Ulrike Franke, especialista do ECFR, afirma que os países da OTAN devem observar e aprender com a Ucrânia sobre implantação rápida, fabricação ágil e táticas eficazes de defesa contra drones. A experiência ucraniana com sistemas doados, como os tanques Gepard, comprovou sua alta eficiência, pressionando a Alemanha a se adaptar rapidamente à nova realidade do campo de batalha.

Adaptando-se à Velocidade da Inovação

Consequentemente, a doutrina militar alemã está a mudar. Treinar todos os soldados para usar e combater drones é agora uma habilidade básica. No entanto, a burocracia de compras públicas tradicional, lenta por natureza, colide com a velocidade vertiginosa da inovação em tecnologia de drones. Para contornar isso, o foco está em contratos ágeis com fornecedores que possam entregar tecnologia atualizada rapidamente e em escala, beneficiando startups inovadoras do setor.

Em conclusão, a abordagem da Alemanha é um reconhecimento claro de que a ameaça dos drones é complexa e requer uma solução em camadas—eletrónica, cinética e de baixa tecnologia—, aliada a uma reforma institucional profunda. O caminho é desafiador, mas a nação está a mobilizar-se decisivamente para garantir a sua segurança aérea.