Brasil tem 28 milhões de não usuários de internet: compreendendo o desafio e soluções estratégicas
A mais recente edição da pesquisa TIC Domicílios revela que 28 milhões de brasileiros não acessam a internet, destacando uma divisão digital que exclui segmentos da sociedade em um contexto cada vez mais dependente da tecnologia. Apesar de haver redução nesse número, persiste um obstáculo crítico para a inclusão digital no país.
Quem são os não usuários de internet?
A metodologia da TIC Domicílios, alinhada às diretrizes da União Internacional de Telecomunicações (UIT), define como não usuários aqueles que não utilizaram a web nos últimos três meses. O estudo destaca que 23 milhões vivem em áreas urbanas, concentrando-se nas regiões Sudeste e Nordeste, com predominância masculina e de pessoas negras ou pardas, além de 85% pertencerem às classes D e E.
Este cenário levanta alertas sobre a exclusão de grupos vulneráveis de serviços digitais essenciais, como o Gov.br e o Meu SUS Digital. Segundo Stephanie Lima, coordenadora do InternetLab, “serviços como INSS e SUS são imprescindíveis, porém acessíveis apenas por quem tem condições de usar a internet”.
Desinteresse e barreiras socioeconômicas
Além das condições econômicas, mais da metade dos não usuários tem 60 anos ou mais, refletindo uma geração que cresceu sem a tecnologia. Fabio Storino, coordenador da pesquisa, explica: “Muitos não têm interesse em usar a internet, e políticas de inclusão podem não ser eficazes para esse público”.
A falta de habilidades técnicas também é um entrave: “não saber usar” é a principal razão apontada, seguida por falta de interesse ou necessidade. Isso reforça a necessidade de programas educacionais direcionados a populações específicas.
Conectividade: qualidade vs. quantidade
Embora 86% dos domicílios brasileiros sejam conectados, a qualidade do acesso varia significativamente. O conceito de conectividade significativa, proposto pelo Cetic.br, avalia fatores como velocidade, dispositivo, frequência e franquia de dados. Fabio Storino ressalta: “Pessoas de classes altas usam fibra ótica e computadores, enquanto outros dependem de celulares com planos limitados”.
As desigualdades são evidenciadas por grupos como mulheres, negros e classes populares, que dependem de redes móveis instáveis e dispositivos limitados. Stephanie Lima complementa: “A exclusão não é apenas por acesso, mas também por qualidade”.
Estratégias para reduzir a exclusão digital
Para superar essas barreiras, especialistas apontam ações multiplas:
- Infraestrutura acessível: Expandir redes de fibra ótica e planos de internet mais baratos.
- Educational programs: Promover alfabetização digital para habilidades práticas e segurança.
- Políticas públicas: Criar espaços com internet de qualidade e dispositivos compartilhados, como bibliotecas.
José Vitor Pereira, advogado do AqualtuneLab, defende: “Planos mais acessíveis e espaços públicos com conectividade garantem que ninguém seja deixado para trás”.
Portanto, universalizar a internet não significa 100% de conectividade, mas assegurar que todos que desejam se conectar tenham condições, conclui Fabio Storino.
