Assembleia Geral da ONU: por que o Brasil sempre fala em primeiro lugar?

Entenda por que o Brasil sempre fala em primeiro lugar na Assembleia Geral da ONU e conheça a história por trás dessa tradição diplomática.

A Assembleia Geral da ONU é um dos principais eventos diplomáticos do ano, reunindo líderes de todo o mundo para discutir temas globais de extrema importância. Uma curiosidade marcante é que o Brasil, tradicionalmente, ocupa o primeiro lugar na lista de oradores. Mas qual é o motivo por trás dessa tradição? Neste artigo, exploramos as razões históricas, políticas e protocolares por trás dessa posição privilegiada.

A origem da tradição

Desde a década de 1950, o Brasil tornou-se o primeiro país a discursar na Assembleia Geral da ONU, com poucas exceções ao longo dos anos. A tradição, no entanto, não nasceu de uma decisão formal, mas sim de um gesto voluntário do governo brasileiro em momentos de hesitação internacional.



Segundo Desmond Parker, chefe de protocolo da ONU em 2010, “em tempos muito antigos, quando ninguém queria falar primeiro, o Brasil sempre se oferecia para falar primeiro. E assim ganhou o direito de falar primeiro na Assembleia Geral”. Essa postura diplomática acabou se consolidando como parte do cerimonial do evento.

Outras teorias sobre a posição do Brasil

Além da explicação mais aceita, outras hipóteses tentam esclarecer por que o Brasil assume o primeiro lugar. Uma delas sugere que o posto teria sido concedido como forma de consolação, após o país não ser incluído no Conselho de Segurança da ONU. Outra teoria aponta que, durante a Guerra Fria, o Brasil foi escolhido por sua neutralidade em relação aos Estados Unidos e à União Soviética.

Exceções à regra

Embora o Brasil tenha se mantido como primeiro orador desde a 10ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em 1955, houve algumas exceções. Por exemplo:



  • Na 38ª e 39ª sessões (1983 e 1984), os Estados Unidos falaram primeiro.
  • Na 71ª sessão (2016), o Chade ocupou o segundo lugar devido ao atraso do presidente norte-americano.
  • Na 73ª sessão (2018), o Equador assumiu o segundo lugar por conta do atraso de Donald Trump.

Essas variações ocorreram principalmente quando o país anfitrião enfrentava atrasos logísticos ou políticos, o que alterava temporariamente a ordem protocolar.

Ordem dos oradores na Assembleia Geral

Ao contrário do que o nome sugere, o “Debate Geral” não é um debate no sentido convencional, mas sim uma série de discursos em que cada nação apresenta sua visão sobre os temas em pauta. Após a abertura realizada pelo presidente da Assembleia, a ordem dos discursos segue um protocolo específico:

  1. António Guterres, secretário-geral da ONU
  2. Annalena Baerbock, presidente da Assembleia Geral
  3. Brasil (primeiro orador entre os Estados membros)
  4. Estados Unidos (como país anfitrião)
  5. Demais países, organizados por hierarquia e ordem de chegada

Além dos Estados membros, observadores como a Santa Sé, o Estado da Palestina e a União Europeia também podem discursar. Os líderes têm um tempo sugerido de até 15 minutos, embora esse limite seja flexível.

Brasil na Assembleia Geral de 2024

No ano de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na abertura da Assembleia Geral da ONU em Nova York, mantendo a tradição. Sua fala foi seguida pela do presidente norte-americano, Donald Trump, representando o país sede do evento.

Portanto, o Brasil continua cumprindo seu papel histórico como porta-voz inaugural, demonstrando seu compromisso com o multilateralismo e a diplomacia internacional.