Horas antes de ser brasileiro morto na Ucrânia em uma emboscada na linha de frente da guerra, Bruno de Paula Carvalho Fernandes, de 29 anos, enviou mensagens de voz à esposa. Em um dos áudios, ele afirmava estar em paz e confiante de que voltaria para casa em breve.
“Não é uma despedida, jamais. É só uma mensagem de que daqui a uns dias estarei de volta. Deus é conosco”, disse Bruno, morador de Governador Valadares, em Minas Gerais.
Quem era Bruno de Paula Carvalho Fernandes?
Antes de partir para a Ucrânia, Bruno trabalhava como técnico de enfermagem em um hospital de sua cidade e havia atuado na linha de frente durante a pandemia de Covid-19. Além de pai e marido dedicado, ele se destacava como um profissional comprometido com a vida e a saúde alheias.
No entanto, movido por razões pessoais e oportunidades oferecidas nas redes sociais, decidiu se alistar como voluntário nas forças ucranianas no fim de maio de 2025. Além disso, chegou a vender seu carro para custear parte das despesas iniciais.
Um recrutamento questionável
A esposa de Bruno, Cecília Fernandes, relatou que encontrou ao menos sete grupos de recrutamento voltados para brasileiros nas redes sociais do marido. Essas páginas prometiam salários de até R$ 30 mil por mês, além de alimentação, transporte e hospedagem custeados pelo governo ucraniano.
- Salário prometido: até R$ 30 mil por mês
- Hospedagem, alimentação e transporte fornecidos
- Registro oficial como soldado ucraniano
Apesar das promessas, Cecília acredita que o marido tenha sido vítima de um sistema de recrutamento que pressiona jovens a se engajar em conflitos estrangeiros. “Ele foi vítima de todo esse sistema de recrutamento”, desabafou.
Ferido antes da morte
Bruno já havia sido gravemente ferido semanas antes de ser brasileiro morto na Ucrânia. Durante uma batalha, foi atingido por diversos tiros, incluindo um na cabeça, e precisou ser internado em uma UTI no país. Mesmo assim, após uma recuperação parcial, foi novamente enviado à linha de frente.
“Ele não podia falar não, estava sendo obrigado a ir”, revelou Cecília. A esposa também contou que, na noite anterior ao ataque, sonhou com a morte do marido — um sinal que, em retrospectiva, parecia premonitório.
Últimos momentos e relatos de companheiros
O brasileiro morreu na manhã de segunda-feira (1º), em uma emboscada. Segundo relatos de um companheiro de linha de frente, Bruno foi atingido na cabeça e nas pernas, sangrando muito antes de falecer. O corpo caiu em uma área de difícil acesso, o que dificultou ações de resgate.
“Ontem à noite eu passei a noite toda chorando feito uma criança, porque não esperava isso dele. Ele era um homem incrível, sempre feliz. Partiu fazendo o que gostava, que era lutar”, disse o amigo.
Além disso, o companheiro relatou que outro brasileiro que fazia parte da equipe sobreviveu, mas foi resgatado em estado grave e segue internado em um hospital local.
Alerta do Itamaraty
O Ministério das Relações Exteriores já havia emitido um alerta consular desaconselhando a participação de brasileiros em atividades militares no exterior. A família de Bruno aguarda orientações do Itamaraty para o traslado do corpo.
O g1 entrou em contato com o órgão solicitando mais informações sobre o caso, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Este caso ressalta os riscos envolvidos no alistamento em conflitos internacionais e a importância de uma reflexão cuidadosa sobre as decisões que envolvem engajamento militar sem amparo legal ou familiar.