Comunidades de brasileiros nos EUA têm adotado estratégias de resistência e proteção contra as operações de imigração do governo Donald Trump. Um dos focos dessas ações é Massachusetts, onde a presença brasileira é significativa, com mais de 300 mil pessoas, segundo o Instituto Diáspora Brasil. Diante de blitzes e deportações, a comunidade se mobiliza principalmente por meio de grupos de WhatsApp, que funcionam como redes de alerta e apoio.
Operação Patriot 2.0: A intensificação das detenções
Em 6 de setembro, o governo Trump deu início à chamada Operação Patriot 2.0 em Massachusetts, a terceira onda de ações do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês) na região. A ofensiva, que teve início após semanas de relativa calmaria, visa intensificar fiscalizações e deportações, especialmente em áreas de forte concentração de imigrantes.
Segundo comunicado do Departamento de Segurança Interna (DHS), o objetivo é “caçar, prender, deportar e impedir que imigrantes ilegais voltem a entrar no país”. Além disso, em 8 de setembro, a Suprema Corte dos EUA autorizou a abordagem de imigrantes com base em raça ou idioma, ampliando o alcance das operações.
Grupos de WhatsApp como ferramentas de proteção
No celular do mineiro Júnior, de 27 anos, e da mato-grossense Lorena, os grupos de WhatsApp não param de enviar alertas desde o início de setembro. Esses grupos recebem milhares de mensagens por dia, com informações de blitzes, vídeos de carros do ICE, e relatos de pessoas detidas. Essas redes de comunicação se tornaram fundamentais para a sobrevivência de brasileiros nos EUA em situação de vulnerabilidade.
“É o horário que os agentes estão se reunindo, então o grupo já começa a pipocar com notícias”, afirma Júnior. Ele administra um dos maiores grupos de imigrantes brasileiros de Massachusetts, criado quando Trump retornou à presidência. “Está ajudando demais a galera porque carros do ICE e agentes muitas vezes estão disfarçados, então tem vídeo do veículo, a placa.”
Medidas extremas de proteção
Em alguns condomínios de imigrantes brasileiros, os moradores chegaram a utilizar drones para monitorar a vizinhança, verificando se havia veículos de agentes de imigração nas saídas. Embora existam regras nos EUA para o uso de drones, a preocupação dos imigrantes supera até mesmo a burocracia legal.
Além disso, há recomendações de comportamento para evitar detenções. Entre as dicas, destacam-se evitar falar português em público, levar crianças para a rua, ou até mesmo usar adesivos de apoio a Trump nos carros. Em uma das mensagens, uma mulher encaminhou um vídeo de linguagem de sinais, alertando: “nada de falar mais”.
Essas medidas refletem o clima de medo instalado na comunidade. “Se você fala inglês mal, te pegam na hora, não quer nem saber se você é cidadão, se tem green card”, conta Júnior, mesmo em processo de obtenção de documentos legais.
Redes de apoio comunitário
Além de alertas e estratégias de proteção, surgem redes de apoio comunitário. A LUCE (Liberty United for Community Empowerment) é uma delas. Composta por diversas organizações de Massachusetts, a rede atua de forma imediata quando recebe ligações de imigrantes relatando ações do ICE. Voluntários são enviados para documentar e filmar detenções, e também ajudam com tarefas básicas, como compras e idas a reuniões com advogados.
“As pessoas ligam, passam detalhes, e os voluntários da região mandam o verificador, que vai com telefone em mão para filmar”, explica Lorena Betts, fundadora da LUCE e candidata a deputada estadual. “Não vamos interferir no trabalho policial, só exercitar o direito constitucional de documentar.”
Impacto psicológico e social
Apesar de estratégias, o impacto emocional é profundo. Muitos imigrantes relatam o desejo de voltar ao Brasil, medo de sair de casa e de perder parentes de forma súbita. “Tem pessoas que simplesmente desaparecem” após serem detidas, afirma Lorena. A ansiedade de não saber onde o detido foi levado, ou se estará seguro, é uma constante.
Além disso, a política de Trump de deportar imigrantes ilegais afeta diretamente a economia local. Muitos deles são trabalhadores essenciais, e sua ausência deixa famílias sem renda e comunidades fragilizadas. Ainda assim, mesmo com o medo, muitos afirmam não querer retornar ao Brasil, devido à insegurança e falta de oportunidades.
Conclusão: O futuro de brasileiros nos EUA
Enquanto setembro se encerra, não há sinais de que a Operação Patriot 2.0 esteja perto de acabar. No entanto, a resistência dos brasileiros nos EUA também cresce, por meio de grupos de apoio, redes de comunicação, e mobilização comunitária. Apesar de todos os desafios, a comunidade brasileira demonstra resiliência, adaptando-se a um ambiente de constante vigilância e pressão.
Essas ações, por mais improvisadas que sejam, revelam a força de uma rede solidária, determinada a proteger seus membros, mesmo diante de uma das políticas de imigração mais rigorosas da história recente dos EUA. E, enquanto isso, a luta de brasileiros nos EUA continua.