Mais de duas décadas após os ataques de 11 de setembro de 2001, o impacto da tragédia ainda reverbera na saúde de milhares de pessoas. Uma das consequências mais alarmantes é o aumento de casos de câncer do 11 de setembro, diagnosticado em sobreviventes, voluntários e profissionais que atuaram nos destroços do World Trade Center.
O que é o câncer do 11 de setembro?
O câncer do 11 de setembro refere-se a diversos tipos de tumores diretamente associados à exposição à poeira tóxica liberada durante o colapso das torres gêmeas. Segundo dados do World Trade Center Health Program, divulgados em junho de 2025, mais de 48,5 mil pessoas já receberam diagnósticos certificados como relacionados ao atentado.
Essa exposição inclui bombeiros, policiais, profissionais da limpeza, voluntários e até mesmo moradores da vizinhança. A nuvem de detritos continha substâncias altamente perigosas, como amianto, benzeno, sílica e chumbo, que comprometeram os mecanismos de defesa celular de muitos indivíduos.
Como a exposição causa câncer?
O oncologista Stephen Stefani, da Oncoclínicas e da Americas Health Foundation, explica que a exposição prolongada a agentes químicos altera o funcionamento celular:
“Cada célula se duplica constantemente. Normalmente, o corpo corrige erros nesse processo. Mas, ao ser exposto a agentes tóxicos como o amianto, esses mecanismos falham. Isso leva a mutações que escapam do controle e aumentam o risco de tumores.”
Quem foi afetado?
Do total de casos confirmados:
- 24,6 mil são profissionais de resgate e limpeza;
- 23,9 mil são sobreviventes civis.
Hoje, 65% dos inscritos no programa de saúde apresentam pelo menos uma condição relacionada ao atentado. Stefani ressalta: “Há mais vítimas do 11 de setembro depois do 11 de setembro do que no próprio dia.”
Tipos mais comuns de câncer
Os tumores mais frequentemente diagnosticados entre os expostos incluem:
- Câncer de pele não melanoma – 15,5 mil casos;
- Próstata – 10,9 mil casos;
- Mama feminina – 4,0 mil casos;
- Melanoma de pele – 3,2 mil casos;
- Linfoma – 2,1 mil casos;
- Tireoide – 2,1 mil casos;
- Pulmão e brônquios – 1,6 mil casos.
Somente em 2024, foram registrados 9,4 mil novos diagnósticos, o que demonstra a persistência do problema.
Riscos em comparação com a população geral
Pesquisas publicadas em periódicos como o Journal of the National Cancer Institute mostram que os riscos são significativamente maiores para os expostos. Por exemplo:
- 19% mais casos de câncer de próstata;
- 81% mais casos de câncer de tireoide;
- 41% maior chance de desenvolver leucemia.
Além disso, tumores raros, como o mesotelioma (ligado ao amianto) e cânceres de tecidos moles, também têm aparecido com maior frequência.
Pesquisas científicas e estudos
Estudos com modelos animais contribuíram para entender como a poeira do WTC afeta o organismo. Camundongos expostos ao pó do local apresentaram inflamação aumentada e ativação de genes ligados à multiplicação celular descontrolada — um ambiente propício para o desenvolvimento de câncer.
Garantia de acompanhamento até 2090
O James Zadroga 9/11 Health and Compensation Act, aprovado em 2011, assegura que o programa de saúde continue funcionando até 2090. Ele oferece:
- Atendimento médico gratuito;
- Monitoramento contínuo;
- Financiamento para pesquisas científicas.
Esse programa é essencial para garantir que as vítimas recebam o suporte necessário.
Outras doenças associadas
Além do câncer do 11 de setembro, o relatório do programa também destaca:
- 41 mil casos de rinossinusite crônica;
- 38 mil pessoas com DRGE;
- 22,5 mil com asma;
- 17 mil com TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático).
Conclusão
O câncer do 11 de setembro é uma realidade que persiste décadas após a tragédia. A exposição à poeira tóxica afetou milhares de pessoas, desencadeando doenças graves que só agora começam a se manifestar. Por isso, é crucial manter o acompanhamento médico e ampliar o reconhecimento dessas condições como consequências diretas do atentado.