Che Guevara na ONU: o discurso que marcou a história das críticas ao imperialismo

Che Guevara na ONU em 1964 foi um momento histórico de crítica ao imperialismo norte-americano. Descubra os principais pontos do discurso e seu impacto global.

Em 11 de dezembro de 1964, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em Nova York foi palco de um dos discursos mais marcantes de sua história. Na ocasião, Che Guevara na ONU assumiu a tribuna como ministro da Indústria de Cuba e proferiu um pronunciamento de forte teor crítico contra o imperialismo, especialmente representado pelos Estados Unidos.

Um discurso de impacto global

Naquele momento, o médico e guerrilheiro argentino usou a plataforma da ONU para condenar a dominação norte-americana em várias partes do mundo. Além disso, Che Guevara na ONU defendeu a soberania dos povos oprimidos, a descolonização da África e a construção de uma nova ordem internacional baseada na paz e na justiça social. O então líder cubano afirmou que os países imperialistas tentavam transformar o encontro em um mero “torneio oratório”, em vez de resolver os problemas reais da humanidade.



Portanto, sua fala não apenas se opunha a esse cenário, como também apresentava uma alternativa de representação para os países do Terceiro Mundo. Segundo o jornalista Ignacio Ramonet, esse foi o momento em que Guevara se consolidou como um embaixador global do movimento de resistência contra o imperialismo. E, de fato, a ONU serviu como um palco de grande visibilidade internacional para essa mensagem revolucionária.

As principais críticas e propostas de Guevara

Na ocasião, Che Guevara na ONU elencou cinco pontos fundamentais para garantir a paz no Caribe:

  • Fim do bloqueio econômico dos Estados Unidos contra Cuba;
  • Interrupção das atividades subversivas promovidas pela CIA;
  • Paralisação dos chamados “ataques piratas” originados de bases militares norte-americanas;
  • Respeito ao espaço aéreo e marítimo cubano;
  • Retirada da Base de Guantánamo da ilha.

Além dessas exigências, o líder cubano criticou o tratamento dado aos porto-riquenhos, o apartheid na África do Sul, a discriminação racial nos Estados Unidos e a influência de potências ocidentais em conflitos globais. Ele também defendeu o desarmamento nuclear, a solidariedade entre os países socialistas e o movimento de não alinhamento como alternativa de força política independente.



Outros momentos de destaque na história da ONU

Apesar de impactante, o discurso de Guevara não foi o único caso de líderes que utilizaram a tribuna da ONU para criticar a política externa dos Estados Unidos. No entanto, o de Guevara se destaca por sua eloquência, ousadia e carga ideológica.

Por exemplo, Fidel Castro, em 1960, fez o discurso mais longo da história da ONU, com 269 minutos. Yasser Arafat, em 1974, defendeu a causa palestina com força e emoção. Já Hugo Chávez, em 2006, chamou George W. Bush de “diabo” em plena Assembleia Geral, gerando repercussão mundial. E, em 2009, Muammar Gaddafi responsabilizou os Estados Unidos por guerras pós-Segunda Guerra, exigindo justiça internacional.

Por que a ONU permite discursos críticos?

Segundo especialistas, o caráter democrático e multilateral da ONU exige o respeito à pluralidade de visões. O jurista Rubens Beçak, da USP, afirma que a instituição “orgulha a comunidade internacional” exatamente por reunir países com diferenças culturais, políticas e econômicas, em busca de um diálogo global. Assim, mesmo discursos fortemente divergentes, como o de Guevara, são vistos como parte do exercício democrático da diplomacia internacional.

Enrique Natalino, do Cebrap, também destaca que a tribuna da Assembleia da ONU é utilizada por líderes para legitimar suas causas e ampliar sua influência no cenário global. “São discursos que dão impulso a visões de mundo”, afirma o historiador Victor Missiato. Portanto, a Assembleia da ONU, longe de ser um espaço homogêneo, é um ambiente onde ideias conflitantes coexistem — e isso é essencial para a construção de uma diplomacia efetiva.

Conclusão

Em resumo, Che Guevara na ONU em 1964 foi um marco na história da crítica ao imperialismo, simbolizando a voz de países oprimidos em um fórum internacional de alcance global. Seu discurso, embora controverso, evidenciou a importância de espaços como a ONU para a diversidade de opiniões, e, ao mesmo tempo, a força de líderes que ousam falar em nome de uma causa maior. A ONU, por sua natureza, deve continuar sendo um local onde todos os povos, independentemente de seu poder, possam se expressar livremente, como de fato ocorreu em 11 de dezembro de 1964.