Lixão Ouro Verde: Uma Tragédia Ambiental de Proporções Alarmantes
Em um alerta grave e inequívoco, Fábio Miranda, o chefe da Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio Descoberto, vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), compara a devastação ambiental causada pelo desabamento do lixão Ouro Verde diretamente com o acidente radiológico de Goiânia. Esta comparação é mais do que um simples comentário; representa uma avaliação técnica profunda sobre a gravidade da situação.
O Desabamento e a Escala dos Danos
Quase um mês após o dramático desabamento da montanha de lixo no local, o cenário de destruição ambiental permanece catastrófico. Os danos causados pelo colapso no lixão Ouro Verde, localizado em Padre Bernardo, no Entorno do Distrito Federal de Goiás, são, de acordo com o ICMBio, de uma magnitude sem precedentes e atualmente incalculáveis.
Miranda deixou claro em entrevista recente que a escala de contaminação ambiental excede significativamente os limites da aceitabilidade. Estamos diante de uma contaminação que requer décadas para sua reversão completa. A invasão dos poluentes no solo é evidente, e as consequências se estendem ao lençol freático e ao sistema vegetal local.
Comparações Técnicas: Lixão vs. Césio-137
A declaração do chefe da APA não é casual. Ao situar a crise atual ao lado do acidente nuclear de Goiânia, ocorrido há décadas, Miranda está destacando a persistência e a gravidade dos contaminantes presentes. Mesmo 34 anos depois da tragédia do Césio-137 na capital goiana, os terrenos continuam marcados pela contaminação.
Neste contexto, o ICMBio identificou diversos poluentes no solo do Ouro Verde. Entre eles, citou explicitamente o mércúrio como um componente particularmente preocupante. Esta diversidade de substâncias químicas torna a tarefa de remediação ainda mais complexa e desafiadora.
Controle Irregular e Resíduos Perigosos
Uma das causas fundamentais para a fragilidade estrutural do lixão e para a extensão da crise atual é o histórico de operação precária. Funcionários do ICMBio, do Governo de Goiás e de outros órgãos competentes relatam que o lixão recebia indiscriminadamente qualquer tipo de resíduo, incluindo os perigosos lixos hospitalares.
As visitas técnicas ao local revelaram um quadro de descaso: “Nós chegamos a andar sobre seringas”, relatou o próprio Miranda, evidenciando a introdução de materiais potentemente contaminantes no ecossistema.
Responsabilização e Ações Corretivas
Face a esse quadro de destruição ambiental, a Secretaria do Meio Ambiente de Goiás (Semad) tentou impor ordens de serviço por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Este documento, no entanto, ainda aguarda assinatura da empresa proprietária do lixão, responsável por assumir os compromissos necessários para minimizar os danos.
Consequentemente, a água do córrego Santa Bárbara, que passa pelo local, tornou-se uma preocupação adicional. Os órgãos ambientais iniciaram operações urgentes de transposição hídrica para evitar que resíduos acumulados de aproximadamente 40 mil toneladas, incluindo os perigosos resíduos hospitalares, contaminem a fonte de abastecimento de moradores locais e ameacem a Usina Hidrelétrica Serra da Mesa.
Visões de Risco e Urgência
Embora especialistas externos possam tranquilamente afirmar que não há risco imediato de novo desabamento, os técnicos do ICMBio enfatizam a urgência crítica do fechamento seguro do lixão. A simples transposição da água é insuficiente; é necessária uma contenção integral dos resíduos para evitar a dispersão de poluentes.
O lixão Ouro Verde, situado a menos de 14 quilômetros do centro de Brasília, representa uma ameaça real e persistente ao ecossistema e à saúde pública. A comparação com o Césio-137, portanto, serve como um alerta contundente sobre os longos períodos de degradação que podem ser gerados pela negligência ambiental.
