Consultores de namoro na China ajudam milhões de solteiros a encontrar parceiras

Os consultores de namoro na China ajudam milhões de solteiros a encontrar parceiras. Entenda como esse mercado funciona e quais são os desafios enfrentados.

Na China, o desequilíbrio entre homens e mulheres é uma realidade alarmante. Com cerca de 30 milhões de homens a mais do que mulheres, o país enfrenta uma crise demográfica que impacta diretamente o mercado do amor. Nesse cenário, os consultores de namoro na China surgem como uma alternativa para ajudar milhões de solteiros a encontrarem uma parceira para casar.

Um mercado em expansão

O fenômeno dos consultores de namoro na China cresce à medida que a pressão social por uniões estáveis aumenta. Homens de todas as idades buscam ajuda profissional para se destacarem em um mercado extremamente competitivo. Um exemplo é o coach Hao, que atende mais de 3 mil clientes e afirma que “a maioria é da classe trabalhadora. Eles são quem tem menos probabilidade de encontrar uma esposa”.



Além disso, Hao lidera cursos intensivos de sedução, como mostrado no documentário The Dating Game (2025), de Violet Du Feng. O filme acompanha três clientes — Li, Wu e Zhou — em uma semana de reeducação amorosa. Eles aprendem a se vestir, a interagir com mulheres e até a criar perfis online atraentes, embora nem todas as técnicas sejam bem-sucedidas.

O legado da política do filho único

Para entender a atual crise, é essencial analisar o impacto da política do filho único, implementada em 1980. Com o objetivo de controlar o crescimento populacional, o governo incentivou famílias a terem apenas um filho. No entanto, a preferência cultural por filhos homens resultou em abortos seletivos e abandono de meninas. O saldo? Um déficit feminino que persiste até hoje.

Consequentemente, a China enfrenta uma queda acentuada na taxa de natalidade e um envelhecimento populacional. Diante disso, o país encerrou a política em 2016 e passou a promover eventos para facilitar o encontro entre solteiros.



A busca por soluções reais e artificiais

Mesmo com a ajuda de consultores de namoro na China, a jornada amorosa enfrenta obstáculos financeiros e emocionais. Zhou, um dos participantes do documentário, revela que ganha apenas US$ 600 por mês, enquanto um encontro custa cerca de US$ 300. “No fim, a sociedade determina o nosso destino”, afirma ele, decidido a “construir meu status”.

Curiosamente, a tecnologia também oferece soluções para o vácuo afetivo. Mais de 10 milhões de mulheres chinesas recorrem a namorados virtuais — avatares que oferecem companhia sem exigências. Segundo Zheng Mu, socióloga da Universidade Nacional de Singapura, isso reflete “problemas sociais” como longas jornadas de trabalho e expectativas rígidas de papéis de gênero.

Uma crise de valores

Violet Du Feng afirma que o documentário vai além da busca por parceiros. Ele revela uma “epidemia de solidão” e a dificuldade de conexão real entre as pessoas. “Como podemos esperar que esses homens sejam emocionalmente estáveis?”, questiona a diretora.

Por fim, The Dating Game mostra que a autenticidade ainda é possível, mesmo em meio à artificialidade. Ao final da jornada, os homens se reúnem em busca de confiança e compreensão. Como destaca Hao, “quando você gosta de si mesmo, é mais fácil fazer as mulheres gostarem de você”.