Demissão de Lisa Cook: Trump desafia a independência do Fed e cria precedente perigoso

A demissão de Lisa Cook por Donald Trump desafia a independência do Fed e levanta preocupações sobre a politização da política monetária nos EUA.

A demissão de Lisa Cook pelo presidente Donald Trump representa um momento crítico para a independência do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. A medida, anunciada na segunda-feira (25), não apenas rompe com a tradição institucional como também levanta sérias preocupações sobre a interferência política em decisões monetárias.

A inédita demissão de uma diretora do Fed

Essa é a primeira vez na história recente que um presidente dos EUA demite diretamente um membro do Conselho de Governadores do Fed. Além disso, a decisão foi tomada sem que houvesse um processo formal que comprovasse irregularidades graves, como exige a legislação.



“Não vou renunciar. Continuarei a cumprir meus deveres para ajudar a economia americana, como venho fazendo desde 2022”, declarou Lisa Cook em nota divulgada por seu advogado. A declaração reforça a ilegitimidade com que a demissão foi conduzida.

Por que a demissão é inédita?

O Fed foi criado especificamente para isolar a política monetária de pressões políticas. Seus membros possuem mandatos longos e escalonados, o que garante estabilidade nas decisões econômicas. Portanto, a demissão de Lisa Cook sem justificativa clara rompe com essa premissa fundamental.

Além disso, o Fed não depende do orçamento do Congresso nem precisa aprovação presidencial para suas decisões. Essa autonomia é essencial para que a instituição mantenha sua credibilidade perante os mercados.



Como funciona o Federal Reserve?

O Fed é composto por três entidades principais:

  • Conselho de Governadores: sediado em Washington, reúne sete membros indicados pelo presidente e aprovados pelo Senado.
  • Bancos de Reserva Regionais: 12 instituições distribuídas pelo país que operam como braços locais do sistema.
  • Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC): responsável por definir a política monetária, incluindo a taxa de juros básica.

Além disso, o Fed presta contas ao Congresso com relatórios e depoimentos públicos, equilibrando autonomia técnica e transparência institucional.

Riscos à credibilidade do banco central

A interferência política na composição do Conselho do Fed pode comprometer sua credibilidade. A independência do banco central é fundamental para que ele conduza políticas monetárias baseadas em critérios técnicos e não em interesses eleitorais.

Segundo Paul Donovan, economista-chefe da UBS, “o Fed pode se tornar o próximo bode expiatório da economia”. Especialistas alertam que a politização da política monetária pode gerar instabilidade nos mercados financeiros, especialmente em um cenário de incertezas comerciais e tarifárias.

Comparação com o caso Lula x Campos Neto no Brasil

No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva crítica frequentemente a independência do Banco Central. Em entrevista à GloboNews, chegou a declarar que a autonomia era uma “bobagem”.

No entanto, a Lei 13.840/2019, sancionada por Jair Bolsonaro, estabeleceu mandatos fixos e não coincidentes para os diretores do BC. Isso impede que decisões técnicas, como a elevação da taxa Selic, sejam vistas como movidas por interesses políticos.

Portanto, a demissão de Lisa Cook nos EUA contrasta com o modelo brasileiro, onde a autonomia é mais consolidada legalmente. A diferença mostra como a falta de limites claros no poder presidencial pode minar instituições fundamentais.

Conclusão

A demissão de Lisa Cook não é apenas uma decisão isolada, mas um sinal de que a independência do Fed está sob ameaça. A ação de Trump pode ter repercussões duradouras na credibilidade da instituição e nos mercados internacionais. Proteger a autonomia dos bancos centrais é essencial para a estabilidade econômica de qualquer país.