Derrota de Milei em Buenos Aires abala governo e economia da Argentina

A derrota de Milei em Buenos Aires abala o governo, compromete o plano econômico e gera instabilidade política na Argentina.

A derrota de Milei na província de Buenos Aires, considerada o principal bastião eleitoral da Argentina, representa um marco decisivo para o futuro político e econômico do país. Com quase 40% dos eleitores argentinos, Buenos Aires é um termômetro nacional, e o resultado eleitoral desta região não apenas enfraquece o presidente, mas também coloca em xeque sua capacidade de governar e implementar seu plano econômico.

A derrota que abalou o governo

Após as denúncias de corrupção envolvendo sua irmã, Karina Milei, o presidente argentino enfrentou sua primeira grande prova eleitoral em Buenos Aires. O pleito definiu a composição da Câmara de Deputados (46 vagas), do Senado (23 vagas) e elegeu vereadores em 135 municípios. Com 99% das urnas apuradas, o Peronismo obteve 47,3% dos votos, enquanto o partido de Milei, La Libertad Avanza, conquistou apenas 33,7%.



Essa diferença de 13,6 pontos percentuais é vista como uma derrota significativa e, segundo especialistas, irreversível. Além disso, em dez das dez eleições provinciais realizadas este ano, Milei venceu em apenas duas delas. O resultado coloca Axel Kicillof, governador reeleito de Buenos Aires, como principal liderança da oposição rumo às eleições presidenciais de 2027.

Consequências políticas e governamentais

A derrota de Milei tem implicações diretas na governabilidade. O presidente precisa de pelo menos um terço do Congresso para barrar possíveis pedidos de impeachment motivados pelas denúncias de corrupção. No entanto, com o Congresso já fora de seu controle, o governo se mostra desgastado e politicamente frágil.

O analista político Cristian Buttié afirma que, embora seja uma eleição regional, “a magnitude da derrota recai diretamente sobre o presidente”, devido ao peso eleitoral da província. Além disso, Alejandro Catterberg, da consultoria Poliarquia, destaca que o governo já vinha perdendo força: “O plano econômico perdia dinamismo, e os vetos a medidas populares agravaram a crise política.”



Economia em risco

O impacto da derrota de Milei também se faz sentir na economia. O governo apostava que uma diferença menor que cinco pontos representaria uma vitória tática. No entanto, uma derrota superior a 13 pontos prejudica suas perspectivas para as legislativas de outubro, que serão decisivas para aprovar reformas tributária, trabalhista e previdenciária.

Sem apoio legislativo, Milei não conseguirá avançar com essas reformas, o que, por sua vez, desestimula os investimentos. A falta de investimento compromete seu plano econômico e cria instabilidade, aumentando o risco de recessão e desvalorização da moeda.

Crise cambial e pressão nos mercados

Após o anúncio dos resultados, os mercados financeiros argentinos despencaram. A bolsa sofreu fortes baixas, e o peso argentino enfrenta pressão por desvalorização. Para conter a instabilidade, o governo já utiliza reservas do Tesouro, mas essas estão se esgotando.

O Banco Central pode ser obrigado a recorrer ao Fundo Monetário Internacional para obter recursos. Esse cenário, que era previsto para ocorrer apenas em outubro, já se antecipou para setembro, intensificando a crise cambial e econômica.

Reações e declarações oficiais

Milei reconheceu a derrota, mas se manteve inflexível quanto ao rumo econômico. Em seu discurso, afirmou: “Não recuaremos nem um milímetro. Confirmamos o rumo e vamos acelerar ainda mais. Nada vai mudar no campo econômico.” Por outro lado, Kicillof, o grande vencedor, criticou o governo e disse que “as urnas mandaram uma mensagem clara: não se pode abandonar os mais vulneráveis.”

Um novo cenário político

Com a derrota de Milei, o cenário político argentino se transforma profundamente. A oposição, liderada pelo Peronismo, se fortalece e começa a vislumbrar o retorno ao poder em 2027. Já o governo precisa redefinir sua estratégia política e econômica com urgência, pois o tempo se esgota.

Se antes havia espaço para correções após outubro, agora é difícil imaginar que o governo consiga adiar mudanças, avalia Catterberg. A responsabilidade recai, portanto, sobre o presidente, que precisa estabilizar a economia e reconquistar o apoio popular.

Em conclusão, a derrota em Buenos Aires não é apenas um revés eleitoral, mas o início de uma crise institucional que pode definir os próximos anos da Argentina.