Discurso de Abbas na ONU: condenação ao Hamas, defesa da Palestina e diálogo com Trump

Confira os principais pontos do discurso de Abbas na ONU, com condenação ao Hamas, defesa da Palestina e abertura para diálogo com os EUA.

O discurso de Abbas na ONU desta quinta-feira (25) marcou a participação do presidente da Autoridade Palestina em um momento crucial do conflito no Oriente Médio. Em sua fala, realizada por videoconferência, Mahmoud Abbas reafirmou a busca pela criação de um Estado da Palestina, condenou os ataques do Hamas a Israel e surpreendeu ao afirmar estar “pronto para trabalhar” com o presidente americano, Donald Trump, apesar de sua aliança com Israel.

Contexto do discurso

Abbas discursou durante a Assembleia Geral da ONU, evento no qual os líderes dos 193 países membros fazem pronunciamentos em Nova York. Porém, devido à proibição de entrada nos Estados Unidos imposta pelo governo de Trump, a participação de Abbas foi autorizada por videoconferência, após votação dos membros da ONU. Esse formato, embora raro, já havia sido utilizado por Volodymyr Zelensky em 2022, durante a guerra na Ucrânia.



Condenação ao Hamas e defesa de um futuro sem o grupo em Gaza

Em um dos momentos mais impactantes de seu discurso, Abbas rejeitou veementemente os ataques perpetrados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023. “Apesar de tudo que nosso povo vem sofrendo, nós rejeitamos o que o Hamas fez no dia 7 de outubro”, declarou. Além disso, ele deixou claro que o grupo não terá lugar em uma futura administração da Faixa de Gaza, onde atualmente detém o poder desde 2007. “A Faixa de Gaza é parte integrante do Estado da Palestina, e estamos prontos para assumir plena responsabilidade pela governança e segurança lá”, afirmou.

Portanto, Abbas não apenas condena os atos violentos, como também reforça a necessidade de unificação do território palestino sob uma única autoridade, a Autoridade Palestina, a qual ele lidera. Além disso, o presidente solicitou a entrega de armas pelas facções armadas, como o Hamas, como parte de um processo de construção de um Estado com instituições legítimas e forças de segurança controladas. “Reiteramos que não queremos um Estado armado”, declarou.

Críticas a Israel e acusações de crimes de guerra

Abbas não poupou críticas ao governo de Israel, liderado por Benjamin Netanyahu. Ele classificou a ofensiva israelense em Gaza como “um crime de guerra e contra a humanidade” e acusou especificamente o uso da fome como arma de guerra. “O governo de Netanyahu transformou a fome em uma estratégia de dominação, algo que não pode ser aceito pela comunidade internacional”, afirmou. Além disso, o presidente palestino destacou que Israel não cumpriu os Acordos de Oslo de 1993, que previam a retirada de tropas da Cisjordânia e de Gaza.



Reconhecimento internacional da Palestina

Em um momento de relevância diplomática, Abbas agradeceu a vários países que recentemente reconheceram a Palestina como um Estado, como Reino Unido, França, Canadá, Portugal e Malta. “Agradecemos os 149 países que já reconheceram a Palestina como um Estado. Nosso povo não esquecerá”, declarou. Essa “onda de reconhecimentos” fortalece o discurso palestino de que a paz só será possível com a concretização de um Estado independente, com fronteiras reconhecidas internacionalmente.

Abertura para o diálogo com os EUA

Apesar de as relações entre Palestina e Estados Unidos serem historicamente tensas, Abbas surpreendeu ao declarar estar “pronto para trabalhar com Trump”. Essa declaração, claramente estratégica, visa reabrir canais de diálogo com a maior potência de apoio a Israel. “Estamos prontos para trabalhar com (o presidente dos EUA, Donald Trump), e todos os parceiros para implementar o plano de paz aprovado em 22 de setembro”, disse.

Conclusão

O discurso de Abbas na ONU foi um marco de posicionamento político, condenação, e apelo por justiça internacional. Ele reafirmou a necessidade de um Estado da Palestina, a condenação ao Hamas, e a busca por uma solução negociada, mesmo em um cenário de grande desvantagem política. Em meio a críticas a Israel, a acusações de crimes de guerra e ao rompimento de acordos históricos, a voz de Abbas ecoa como a de um líder que, mesmo isolado, busca manter a Palestina no centro das discussões globais sobre paz e direitos humanos.