Dólar fraco: estratégias de Trump para desvalorizar a moeda e seus impactos globais

Entenda por que Donald Trump promove ações para enfraquecer o dólar e como isso afeta a economia dos EUA e o mercado global.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem adotado uma série de medidas que indicam um claro objetivo: enfraquecer o dólar. Economistas ouvidos por grandes veículos apontam que ações como aumento de tarifas e críticas ao Federal Reserve (Fed) criam um cenário de instabilidade, reforçando a percepção de que o enfraquecimento cambial é intencional.

Por que o dólar fraco é uma estratégia?

O dólar fraco pode beneficiar a economia dos EUA ao tornar as exportações americanas mais competitivas no mercado internacional. Isso ocorre porque produtos norte-americanos se tornam mais baratos para compradores estrangeiros, estimulando o comércio externo. Trump, que já declarou publicamente sua preferência por uma moeda mais baixa, argumenta que um dólar forte prejudica setores estratégicos como turismo e manufatura.



“Quando temos um dólar forte, soa bem. Mas você não tem turismo. Não consegue vender tratores, não consegue vender caminhões”, afirmou o presidente.

Além disso, o déficit comercial dos EUA — que ocorre quando o país importa mais do que exporta — tem pressionado o governo a buscar alternativas. Portanto, o dólar fraco surge como uma ferramenta indireta para tentar equilibrar as contas externas.

Estratégias para enfraquecer o dólar

As principais ações de Trump para promover um dólar fraco incluem:



  • Aumento de tarifas comerciais sobre produtos estrangeiros;
  • Críticas constantes ao Fed e pressão por cortes na taxa de juros;
  • Propostas de reformulação cambial por meio de moedas digitais como as stablecoins.

Ataques ao Federal Reserve

As críticas de Trump ao Fed visam, segundo especialistas, reduzir a entrada de capitais estrangeiros nos EUA. Ao pressionar por cortes de juros, o governo torna os ativos norte-americanos menos atrativos, o que pode levar investidores a buscar outros mercados. Essa estratégia gera uma leve desvalorização cambial sem comprometer o status do dólar como moeda de reserva global.

Na prática, a redução da taxa de juros para a faixa de 4% a 4,25% ao ano — em setembro de 2025 — indica uma convergência com essa meta. Vale ressaltar que o único voto contrário à redução veio de Stephen Miran, nome indicado por Trump, que defendeu um corte ainda mais agressivo.

O papel das stablecoins

Com a sanção do Genius Act em julho de 2025, os EUA regulamentaram as stablecoins — moedas digitais lastreadas em ativos estáveis como o dólar. Essa medida visa criar um novo pilar de sustentação cambial. Ao exigir que as stablecoins sejam lastreadas em títulos do Tesouro, o governo estimula a demanda por esses papéis, mesmo diante de juros mais baixos.

Segundo o economista André Perfeito, “a stablecoin funciona como uma intermediária: o investidor compra a moeda digital, e o emissor compra títulos públicos”. Esse ciclo pode ajudar a manter a atratividade dos ativos americanos mesmo com retornos reduzidos.

Impactos globais do dólar fraco

O enfraquecimento do dólar tem repercussões diretas em outras economias. Por exemplo, o real brasileiro se valorizou cerca de 14% em 2025, beneficiando-se da menor força cambial do dólar e do diferencial de juros entre os dois países.

Além disso, o índice DXY — que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas — acumula queda superior a 10% no ano. Paralelamente, o ouro — ativo considerado seguro — subiu quase 40%, indicando crescente instabilidade econômica global.

Exemplos históricos de desvalorização cambial

O desejo por um dólar fraco não é novidade. Governos anteriores também tentaram reduzir a força da moeda para estimular exportações e corrigir desequilíbrios externos:

  1. 1971 – Nixon: Fechamento da “janela dourada” encerrou a conversibilidade do dólar em ouro, desvalorizando a moeda.
  2. 1985 – Acordo de Plaza: EUA, Alemanha Ocidental, Japão e outros parceiros intervieram para enfraquecer o dólar.
  3. 2009 – Obama: Tentativa de pressionar a China a valorizar o yuan, em meio à crise financeira global.

Críticas e limitações da estratégia

Apesar da lógica aparente, especialistas como Roberto Dumas, do Insper, alertam que o déficit comercial dos EUA está ligado a fatores estruturais, como o baixo nível de poupança interna. “As ações de Trump refletem uma compreensão equivocada de conceitos macroeconômicos”, afirma Dumas.

Portanto, mesmo com um dólar fraco, os desequilíbrios externos só serão resolvidos se houver mudanças profundas na política fiscal e no comportamento de consumo dos americanos.

Conclusão

Trump está usando ferramentas como tarifas, críticas ao Fed e moedas digitais para enfraquecer o dólar e impulsionar as exportações. Embora a estratégia tenha lógica econômica, sua eficácia é limitada por fatores estruturais. O dólar fraco pode oferecer ganhos de curto prazo, mas não resolve as raízes do problema cambial dos EUA.