O encontro entre Lula e Trump durante a Assembleia Geral da ONU surpreendeu analistas e observadores internacionais. Em um ambiente de crescente tensão bilateral, o presidente americano chamou o brasileiro de “um cara legal” e anunciou a intenção de um novo encontro na semana seguinte.
Contexto de Tensões Bilaterais
Antes desse gesto inesperado, a relação entre Brasil e Estados Unidos estava em sua pior fase desde o golpe militar de 1964. Desde que assumiu a presidência, Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, em vigor desde 1º de agosto, e adotou uma retórica dura contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Além disso, o governo americano aplicou sanções ao ministro Alexandre de Moraes com base na Lei Global Magnitsky, que visa punir violações de direitos humanos e corrupção.
Escalada de Conflitos
Portanto, a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão em setembro intensificou a crise. Trump respondeu com restrições de vistos a ministros brasileiros, e Lula rebateu publicamente, defendendo a democracia brasileira em artigo no The New York Times. Além disso, a véspera da Assembleia Geral da ONU marcou uma nova rodada de sanções, incluindo a advogada Viviane Barci de Moraes e a empresa Lex – Instituto de Estudos Jurídicos, administrada por ela e pelos filhos do casal. Os EUA também revogaram o visto do advogado-geral da União, Jorge Messias, agravando a crise diplomática.
Um Encontro Surpreendente
Apesar do cenário de conflitos, encontro entre Lula e Trump ocorreu de forma informal, nos corredores da ONU. Trump relatou abraços e uma breve conversa, mencionando a possibilidade de um novo encontro. A assessoria de Lula confirmou o contato, mas sem definir data ou local. Além disso, especialistas afirmam que essa interação pode representar uma mudança de tom nas relações entre os dois países. Portanto, a fala pública de Trump, embora breve, marca a primeira vez que ele menciona Lula de forma positiva em um ambiente de grande visibilidade internacional.
Expectativas e Riscos
Para Oliver Stuenkel, professor da FGV, o simples fato de o diálogo ter sido reaberto já é relevante. “Permite estabelecer uma relação pessoal entre os líderes e identificar espaços para compromissos, especialmente em temas comerciais e de sanções”, afirma. No entanto, Lucas Leite, da FAAP, alerta que o estilo de Trump é personalista e fora dos padrões tradicionais da diplomacia. “Duvido que qualquer negociação siga regras multilaterais. É mais provável que haja discussões sobre tarifas e pressões de setores americanos”, explica. Além disso, o gesto pode ter motivações estratégicas, tentando manter o Brasil dentro da órbita de influência dos EUA e afastá-lo da China.
Desafios para o Diálogo
Paulo Velasco, professor da Uerj, avalia o aceno de Trump como perigoso. “Ele joga a batata quente para o Brasil, sugerindo que o encontro depende da vontade de Lula. Se o encontro não acontecer, o Brasil pode ser responsabilizado. Se acontecer, e houver concessão, Trump pode vendê-lo como uma vitória”, alerta. Além disso, o Brasil tem pouco a oferecer em troca, pois não pode ceder em pontos como o julgamento de Bolsonaro ou interferir em empresas de tecnologia. No entanto, Dawisson Belém Lopes, da UFMG, acredita que o comércio seja o terreno mais fácil de negociação. “Tarifas tão altas prejudicam os próprios EUA e podem ser revistas parcialmente”, afirma. Questões políticas, no entanto, são mais difíceis de alterar.
Discursos na ONU: Contrastes Marcantes
Os discursos de Lula e Trump na ONU evidenciaram visões de mundo opostas. Lula criticou sanções arbitrárias, defendeu o multilateralismo, a democracia e o Estado de direito, sem citar diretamente os EUA. “Nossa democracia e soberania são inegociáveis. Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela”, declarou. Além disso, abordou conflitos internacionais e reafirmou compromissos ambientais, como a preparação para a COP30. Já Trump, em um discurso radical, criticou a ONU, chamou as mudanças climáticas de “a maior mentira da história” e apresentou-se como único capaz de resolver os problemas globais. O contraste entre os discursos, segundo Stuenkel, revela diferentes públicos: Lula voltou-se para a comunidade internacional, enquanto Trump focou no eleitorado americano. No entanto, o discurso de Trump acabou ofuscando parte da repercussão, mesmo em um evento de relevância global como a Assembleia Geral da ONU.
Conclusão
Em conclusão, o encontro entre Lula e Trump pode sinalizar uma nova fase nas relações entre Brasil e Estados Unidos, mas está longe de garantir uma reconciliação imediata. Embora o gesto de Trump tenha sido surpreendente, a agenda bilateral ainda enfrenta sérios obstáculos, especialmente no plano político. Dessa forma, a próxima reunião entre os líderes será decisiva para definir se essa abertura de caráter simbólico terá consequências concretas. Portanto, a comunidade internacional acompanhará de perto os próximos passos de um dos relacionamentos diplomáticos mais tensos da atualidade.