O Misterioso Encontro dos Trigêmeos
Em julho de 1961, três bebês gêmeos idênticos nasceram em um hospital de Nova York. A vida que deveriam levar após esse dia crucial, entretanto, seguiu caminhos divergentes. Robert Shafran, David Kellman e Eddy Galland foram entregues a famílias de acolhimento diferentes ainda bebês. Os pais adotivos desconheciam a existência dos irmãos biológicos. Os próprios gêmeos viveriam sem saber que compartilhavam uma ligação genética tão íntima.
A história de repente mudaria em 1980, durante os estudos iniciais na faculdade. Robert “Bobby” Shafran, de 19 anos, despertou a atenção de colegas na Sullivan Community College por ser extremamente parecido com um aluno que frequentara a instituição anteriormente, Eddy Galland. Uma conexão que parecia casual revelaria um destino compartilhado. Este inesperado encontro marcaria não apenas suas vidas, mas também a história da psicologia como um todo.
O Início da Revelação
A primeira reação de Bobby ao perceber as semelhanças com Eddy foi de perplexidade. “Todo mundo estava me cumprimentando… ‘Oi, Eddie’… Foi tudo muito estranho”, relatou ele posteriormente. Michael Domnitz, colega de estudos de Eddy, confirmou imediatamente que Bobby tinha o mesmo sorriso e expressões faciais. A confirmação veio ainda mais clara quando Bobby revelou seu aniversário coincidente com o de Eddy.
O telefonema para Eddy resultaria em um encontro inacreditável. “Eu encontrei a mim mesmo”, descreveu Bobby. “Foi como se tivesse sido apresentado à minha pessoa… Fantástico.” Os dois gêmeos logo descobriram detalhes impressionantes: mesmo gostos musicais, preferências alimentares idênticas e até mesmo comportamentos semelhantes desde a infância.
A notícia sobre o reencontro dos dois gêmeos não tardou a chegar às manchetes. Rapidamente, outro jovem de 19 anos, David Kellman, identificou-se como o terceiro gêmeo. A confirmação veio depois de analisar cuidadosamente os jornais e verificar coincidências nos dados pessoais.
A Tragédia Revelada
O que parecia inicialmente uma história de reencontro feliz escondia uma verdade sombria. David, Bobby e Eddy descobriram que não eram apenas irmãos gêmeos perdedos. Eram participantes de um estudo psicológico secreto que durou décadas.
Os pais adotivos dos três homens aprenderam rapidamente sobre o estudo que separara os bebês. A justificativa dada era que teria sido difícil encontrar três famílias dispostas a adotar gêmeos. Os pais, entretanto, sentiram que essa explicação não atendia totalmente ao silêncio anterior sobre a existência dos irmãos biológicos.
Os jovens gêmeos foram acompanhados e filmados em seus ambientes domésticos e escolares. As visitas dos pesquisadores perduraram até que os meninos completassem 10 anos. O estudo, liderado pelo psicanalista austríaco Peter Neubauer, permaneceu inedita até ser revelado décadas depois.
Os Segredos Selados
Peter Neubauer e sua equipe monitoraram os gêmeos sem nunca revelar suas intenções reais. A pesquisa buscava responder a uma questão central em psicologia: qual o impacto real da genética versus o ambiente na formação da personalidade?
Bobby descreveu sua experiência: “Fomos tratados como ratos de laboratório… Agora sabemos o nome das pessoas que fizeram isso.” A sensação de violação da privacidade foi intensa para todos os envolvidos.
Os dados coletados permaneceram ineditos na Universidade de Yale, selados para serem abertos apenas em 2065. Isso deixou Bobby e David em uma situação peculiar: sem saber se o estudo produziu conhecimento científico útil.
“Seria bom saber se algumas conclusões fossem úteis… Para que tudo isso não tivesse sido em vão,” ponderou Bobby.
Efeito Pós-Morte
A tragédia atingiu profundamente a família dos gêmeos. Eddy Galland luta com problemas de saúde mental e, em 1995, enfrenta um desfecho fatal.
O documentário “Three Identical Strangers” (Três Estranhos Idênticos), dirigido por Tim Wardle, registrou toda a complexidade da história. A narrativa levanta questões éticas significativas sobre estudos com seres humanos e o tratamento de crianças como sujeitos de experimentação.
Os trigêmeos separados por um estudo psicológico representam um caso único que interroga a natureza da identidade humana. Sua história permanece como um testemunho da complexidade da psique humana e da importância de respeitar a autonomia individual.