Exercícios militares na Venezuela: demonstração de força ou operação de propaganda?

Os exercícios militares na Venezuela respondem à presença de navios dos EUA no Caribe, mas especialistas questionam sua eficácia real e apontam para uma ação simbólica.

Diante da crescente tensão com os Estados Unidos, a Venezuela inicia exercícios militares na ilha de La Orchila, no Caribe, como forma de mostrar força e resistência. O governo de Nicolás Maduro responde assim ao envio de oito navios de guerra dos EUA para a região, justificados como uma ação contra o tráfico de drogas, mas interpretados por Caracas como uma ameaça direta.

Resposta militar a uma “guerra não declarada”

O ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López, classificou a presença norte-americana como uma “guerra não declarada”. Em resposta, o país organizou três dias intensos de exercícios militares na Venezuela, concentrados na ilha La Orchila. A operação mobilizou 12 navios da Marinha, 22 aeronaves, veículos anfíbios e até botes de pescadores integrados à Milícia Nacional.



Além disso, participaram cerca de 2.500 pessoas, entre soldados, reservistas e civis. As atividades incluíram lançamentos de mísseis, testes de armamento e saltos de paraquedistas. A intenção declarada é reafirmar a soberania nacional e a capacidade defensiva diante de uma potencial invasão.

Equipamentos e aliados estratégicos

Durante os exercícios militares na Venezuela, foram exibidas imagens oficiais com aviões Sukhoi, tanques apontando para o céu e sistemas de defesa antiaérea adquiridos da Rússia — parceira histórica e aliada estratégica do regime de Maduro. A apresentação desses recursos busca reforçar a imagem de um aparato militar moderno e operante.

Críticas e interpretações estratégicas

No entanto, analistas militares e especialistas em geopolítica questionam a real eficácia dessas manobras. Para muitos, os exercícios militares na Venezuela têm mais valor simbólico do que tático. Hernán Lugo-Galicia, analista político e militar, declarou que “reunir tanta força em uma ilha vulnerável não é estratégico. Um bloqueio com apoio aéreo eliminaria essa força rapidamente”.



Além disso, Raynell Martínez, major da reserva exilado nos EUA, apontou uma contradição: “Eles realizam manobras de guerra convencional enquanto pregam a guerra assimétrica. São manobras de resistência voltadas ao público interno”.

Propaganda interna e controle de narrativa

Um general da reserva entrevistado pela AFP afirmou que a mobilização tem como objetivo principal “passar a impressão de controle e coragem”. Portanto, a ação serve mais como encenação política do que como preparação real para um conflito. A iniciativa visa tranquilizar a população e reforçar a ideia de que o governo está no controle da situação.

Força militar real versus imagem pública

Segundo dados do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), as Forças Armadas venezuelanas somam cerca de 123.000 militares ativos e 220.000 membros nas Milícias. No entanto, fontes anônimas consultadas pela AFP revelam que apenas cerca de 30.000 desses milicianos estão de fato treinados e armados. Isso levanta sérias dúvidas sobre a efetividade do aparato defensivo nacional.

Portanto, os exercícios militares na Venezuela parecem mais uma ferramenta de comunicação do que uma demonstração de poder militar real. O governo busca manter a narrativa de invencibilidade, mesmo diante de uma crise econômica que afeta profundamente a capacidade operacional das forças armadas.

Conclusão: força ou aparência?

Em resumo, os exercícios militares na Venezuela são uma resposta simbólica a uma ameaça percebida. Embora mobilizem recursos e chamem atenção internacional, especialistas concordam que sua relevância estratégica é mínima. A ação tem mais a ver com controle de narrativa e tranquilização da população do que com preparação real para conflitos. Diante disso, o desafio para o governo é manter a aparência de força sem comprometer ainda mais as finanças e a credibilidade militar do país.