Frota fantasma de Putin abastece o Brasil com combustível russo apesar de sanções internacionais

A frota fantasma russa continua abastecendo o Brasil com combustíveis apesar das sanções internacionais. Entenda os riscos e implicações dessa prática.

A chamada frota fantasma da Rússia, composta por navios-tanque usados para driblar sanções internacionais, continua abastecendo o Brasil com combustíveis originários da Rússia desde 2022. Essa prática ocorre mesmo após a imposição de restrições econômicas por parte dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia.

O que é a frota fantasma?

O termo “frota fantasma” refere-se a uma frota de navios-tanque utilizada para exportar petróleo e derivados russos após a imposição de sanções internacionais devido à invasão da Ucrânia. Esses navios adotam táticas como mudanças frequentes de nome, bandeira e propriedade, além de operar com o sistema AIS desligado, dificultando sua identificação.



Segundo especialistas, essa estratégia permite que a Rússia mantenha a exportação de combustíveis, financiando sua máquina de guerra mesmo sob pressão internacional. Como o Brasil não aderiu às sanções internacionais, o país se tornou um destino estratégico para essas embarcações.

Brasil como porto seguro

Desde 2022, ao menos 36 navios da frota fantasma russa atracaram em portos brasileiros, transportando cargas significativas de diesel e outros derivados. Os principais terminais que receberam essas embarcações ficam nos portos de Santos e Paranaguá.

  • Em 2022, o Brasil importou US$ 100 milhões em combustíveis russos;
  • Em 2023, esse valor saltou para US$ 4,5 bilhões;
  • Em 2024, atingiu o pico de US$ 5,4 bilhões.

A Rússia se tornou o principal fornecedor de diesel importado para o Brasil, respondendo por cerca de 60% do total importado. Apesar da relevância econômica, a entrada desses navios traz riscos diplomáticos, econômicos e ambientais ao país.



Riscos ambientais e operacionais

Os navios da frota fantasma costumam ser mais antigos e nem sempre possuem os seguros adequados. Além disso, sua operação irregular aumenta o risco de acidentes em alto mar. Como muitos desses navios navegam com o AIS desligado, a responsabilização em caso de vazamentos ou colisões é extremamente difícil.

Segundo o professor Alexander Turra, do Instituto de Oceanografia da USP, “caso ocorra um acidente, a cobrança pelos prejuízos seria muito complicada, especialmente se o navio estiver operando de forma irregular”.

Implicações diplomáticas e econômicas

Empresas brasileiras que mantêm negócios com embarcações da frota fantasma correm o risco de serem sancionadas por governos ocidentais. Benjamin Schmitt, da Universidade da Pensilvânia, afirma que “qualquer empresa que faça negócios com essas embarcações está, direta ou indiretamente, financiando a invasão russa à Ucrânia”.

Esse cenário coloca o Brasil em uma posição delicada, especialmente em relação aos Estados Unidos, que já sancionaram países como a Índia por manterem operações semelhantes. A ausência de orientações claras do governo brasileiro para restringir a entrada desses navios agrava a situação.

Como operam os navios da frota fantasma?

Um exemplo emblemático é o navio Manta, sancionado pela União Europeia em maio de 2025 por transportar diesel russo com risco elevado. Mesmo após a sanção, o navio atracou normalmente no Porto de Suape, em Pernambuco, transportando 17,2 mil toneladas de óleo diesel.

Esse tipo de embarcação utiliza bandeiras de conveniência, com registros em paraísos fiscais, como Seychelles e Suíça, dificultando ainda mais o rastreamento. Além disso, trocam de nome e propriedade com frequência, dificultando a detecção por órgãos reguladores.

O papel do governo brasileiro

Apesar das sanções internacionais, o governo brasileiro não impôs restrições à entrada de navios da frota fantasma. A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) afirma que não recebeu orientações oficiais para impedir a atracação desses navios. A Marinha também declarou que, embora monitore essas embarcações, não foi instruída a proibir sua entrada.

Portanto, operadores portuários seguem as normas nacionais, e não as internacionais. Esse comportamento levanta questionamentos sobre a responsabilidade do Brasil no financiamento da guerra russa, mesmo que indiretamente.

Conclusão

A presença da frota fantasma russa nos portos brasileiros revela uma lacuna nas políticas energéticas e diplomáticas do país. Embora o Brasil possua autonomia para decidir suas relações comerciais, a aceitação dessas embarcações coloca em risco sua reputação internacional e gera preocupações ambientais e econômicas.

Com o aumento da pressão internacional, o país deve rever sua postura e considerar a adesão a mecanismos de controle mais rígidos, alinhando-se às normas globais de segurança e responsabilidade energética.