A França se encontra em um momento político delicado. Diante de pressões crescentes por justiça fiscal, o novo primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, enfrenta uma decisão crucial: incluir ou não o imposto sobre super-ricos no orçamento de 2026. Essa proposta, conhecida como “taxa Zucman”, divide opiniões entre governo, oposição e setores empresariais.
A taxa Zucman e sua relevância
O economista Gabriel Zucman é o idealizador do imposto sobre super-ricos que visa taxar fortunas acima de 100 milhões de euros a uma taxa anual de 2%. Embora atinja apenas 0,01% dos contribuintes, o impacto financeiro seria expressivo: cerca de 20 bilhões de euros por ano (R$ 125 bilhões).
Esse montante ajudaria o governo a enfrentar um déficit de 5,8% do PIB em 2024 e uma dívida pública que chega a 114% do PIB. Além disso, o valor representa quase metade da economia prevista pela proposta anterior, rejeitada pelo Parlamento, que previa cortes sociais e a eliminação de feriados.
Justiça fiscal nas ruas
O apoio popular ao imposto sobre super-ricos é evidente. Segundo pesquisa da Ifop, 86% dos franceses apoiam a medida, enquanto 79% desejam a redução de subsídios a grandes empresas. Esse sentimento se refletiu em protestos em setembro e greves convocadas por sindicatos, como a Confederação Geral do Trabalho (CGT).
“O orçamento será decidido nas ruas”, declarou Sophie Binet, líder da CGT, durante manifestações que reuniram cerca de 400 mil pessoas — o dobro da mobilização anterior.
Reações do setor empresarial
Apesar do apoio popular, o imposto sobre super-ricos enfrenta forte resistência do setor empresarial. A federação patronal Medef considera a taxa uma “forma de expropriação” e ameaça mobilizar empresários caso o projeto avance.
Além disso, Lecornu, embora se declare a favor de uma “ruptura” em relação ao passado, rejeitou a taxa Zucman. Seus aliados republicanos e a extrema direita liderada por Marine Le Pen também se opõem à proposta, criando um cenário complexo para sua aprovação no Parlamento.
Macron e a herança fiscal
O atual presidente Emmanuel Macron, desde 2017, optou por reduzir impostos sobre empresas e grandes fortunas para tornar a França mais competitiva. No entanto, esse caminho gerou críticas e aumentou a demanda por uma reforma fiscal mais justa.
Segundo o Senado francês, os subsídios públicos a grandes empresas somaram pelo menos 211 bilhões de euros (R$ 1,32 trilhão) em 2023, o que reforça o argumento dos defensores do imposto sobre super-ricos como uma alternativa mais equilibrada.
Conclusão
O debate em torno do imposto sobre super-ricos ilustra a crescente tensão entre justiça social e atratividade econômica. Embora a proposta encontre resistência de setores tradicionais do poder, o apoio popular e a necessidade de reduzir déficits públicos indicam que o tema permanecerá em pauta nos próximos meses.
