Intervenção cambial na Argentina: governo Milei reage à crise política e econômica

Entenda a intervenção cambial na Argentina e como o governo Milei busca conter a desvalorização do peso em meio à crise política.

O governo do presidente argentino Javier Milei anunciou uma intervenção cambial na Argentina em meio à crescente desvalorização do peso frente ao dólar. A decisão, divulgada na última terça-feira (2), foi uma resposta direta à instabilidade econômica e à pressão política que o país enfrenta nas vésperas de importantes eleições.

O contexto da intervenção cambial

A intervenção cambial na Argentina foi oficializada pelo secretário de Finanças, Pablo Quirno, em uma publicação no X (antigo Twitter). Segundo ele, o Tesouro Nacional passará a atuar diretamente no mercado de câmbio com o objetivo de assegurar maior liquidez e estabilidade.



“O Tesouro Nacional anuncia que, a partir da presente data, participará do mercado livre de câmbio com o objetivo de contribuir para sua liquidez e bom funcionamento”, declarou Quirno.

Essa medida visa conter os movimentos bruscos de desvalorização do peso argentino, que já havia ultrapassado a marca histórica de 1.359 por dólar em agosto de 2025. A desvalorização acelerada começou após a adoção do regime de câmbio flutuante em abril, que substituiu o antigo regime de “crawling peg” — onde a moeda perdia valor controladamente.

Impacto imediato da flexibilização cambial

No primeiro dia útil após a flexibilização cambial, o peso sofreu uma queda de 11,38%, indicando o quanto o mercado reagiu à instabilidade. Desde então, a moeda segue em queda acentuada, exigindo uma resposta mais contundente do governo.



  • Mais dólares no mercado tendem a reduzir sua cotação frente ao peso;
  • A intervenção do Tesouro busca justamente aumentar a oferta de dólares;
  • O objetivo é evitar flutuações excessivas que prejudiquem a economia local.

Crise política abala a credibilidade de Milei

Além dos desafios econômicos, o governo enfrenta uma crise política sem precedentes. Escândalos envolvendo a irmã do presidente, Karina Milei, expuseram o governo em um momento delicado, com eleições provinciais marcadas para o próximo domingo (7) e eleições legislativas em outubro.

Áudios vazados revelaram denúncias de corrupção, incluindo supostas cobranças de propina de empresas farmacêuticas. O ex-chefe da Agência Nacional para a Deficiência, Diego Spagnuolo, afirmou em gravação: “Estão roubando. Você pode fingir que não sabe, mas não joguem esse problema para mim, tenho todos os WhatsApp de Karina”.

Javier Milei, por sua vez, defendeu publicamente sua irmã e chamou as acusações de “mentirosas”. No entanto, a polêmica tem impactado diretamente sua governabilidade e a percepção dos investidores internacionais.

As consequências econômicas da crise

Segundo o economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo, a intervenção cambial na Argentina pode ter repercussões ambíguas. Por um lado, ela demonstra preocupação com a estabilidade; por outro, pode afetar negativamente a imagem do país perante o mercado externo.

Por outro lado, há uma interpretação de que o governo argentino entendeu que é preciso colocar o pé no chão e empreender medidas em um ritmo adequado e sem precipitações”, afirma Galhardo.

Apesar de ter mais reservas internacionais do que no passado e acordos com o FMI, a Argentina ainda enfrenta problemas estruturais que exigem reformas profundas e duradouras.

Medidas anteriores e seu impacto limitado

Em maio, o governo incentivou os cidadãos a declararem dólares mantidos “debaixo do colchão” por meio de um programa de anistia fiscal. O objetivo era injetar capital na economia, mas a medida não evitou a desvalorização contínua do peso.

Diante disso, a intervenção cambial na Argentina surge como um recurso emergencial. Embora temporária, ela reflete a urgência em conter a instabilidade e restaurar a confiança dos investidores.

Em conclusão, o cenário econômico e político argentino está em um ponto crítico. A intervenção cambial pode trazer alívio de curto prazo, mas não resolve os problemas estruturais do país. A aprovação de reformas e a recuperação da confiança pública serão essenciais para o futuro da economia argentina.