Intervenção cambial do governo Milei: motivos e impactos na economia argentina

Entenda os motivos e impactos da intervenção cambial do governo Milei na Argentina, em meio a crise política e econômica.

O governo argentino, liderado por Javier Milei, decidiu realizar uma intervenção cambial pela segunda vez consecutiva, vendendo US$ 379 milhões em reservas do Banco Central apenas nesta quinta-feira (18). Ao todo, foram US$ 432 milhões em dois dias, em um esforço para conter a valorização do dólar frente ao peso argentino.

O que levou à intervenção cambial?

A intervenção cambial ocorre em um contexto de intensa volatilidade cambial. Desde a adoção do regime de câmbio flutuante em abril, o peso vinha perdendo força. A pressão aumentou quando investidores buscaram dolarizar seus ativos diante da crescente desconfiança no governo.



Além disso, o índice acionário S&P Merval recuou 4,93% na quinta-feira, enquanto os títulos soberanos caíram 3,8%, em média. Portanto, a intervenção cambial visa estabilizar o mercado e evitar um colapso da confiança externa.

1. Queda do peso e risco de inflação

Embora o governo tenha reduzido a inflação com cortes severos nos gastos públicos, a economia ainda enfrenta fragilidades estruturais. A desvalorização do peso encarece as importações e alimenta a inflação, o que mina a popularidade de Milei.

No entanto, a falta de reservas em dólar limita a capacidade do governo de reagir. Com menos dólares em caixa, o ciclo vicioso se agrava: menos recursos para intervir, mais desvalorização, mais pressão sobre os preços.



2. Escândalo de corrupção na cúpula do governo

Além dos problemas econômicos, o governo enfrenta uma crise política. Um escândalo envolvendo a irmã do presidente, Karina Milei, abalou ainda mais a credibilidade do governo. De acordo com áudios vazados, ela teria recebido propina para a compra de medicamentos públicos.

Esse tipo de notícia afasta investidores estrangeiros, reduzindo a oferta de dólares e intensificando a demanda por essa moeda. Consequentemente, a intervenção cambial se torna uma ferramenta necessária para conter os efeitos da fuga de capitais.

3. Derrota eleitoral em Buenos Aires

Outro fator que pressiona o governo é a derrota expressiva nas eleições provinciais de Buenos Aires, ocorridas em 7 de setembro. O partido de Milei, A Liberdade Avança, obteve apenas 33,7% dos votos, enquanto o Peronismo alcançou 47,3%.

Essa derrota fragiliza o governo no Congresso e expõe sua dificuldade em implementar reformas. A instabilidade política, portanto, atua como catalisador para a desvalorização do peso, justificando a intervenção cambial.

Mecanismos e limites da intervenção

O Banco Central anunciou a criação de uma banda cambial diária para conter a volatilidade. Nesta quinta-feira, os limites foram definidos em 1.474,83 pesos para vendas e 948,76 para compras. Além disso, o teto da banda é corrigido diariamente com um aumento de 1% ao mês.

Pelo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), sempre que a cotação no atacado ultrapassa esse teto, o BC pode intervir com venda de reservas. Essa regra dá respaldo legal à intervenção cambial e busca evitar uma escalada da crise cambial.

Conclusão

A intervenção cambial do governo Milei reflete uma mudança estratégica diante da pressão crescente no mercado. Embora adote uma agenda liberal, o presidente precisa equilibrar ideologia com realidade econômica. No entanto, a sustentabilidade dessa abordagem depende da capacidade de gerar confiança e atrair investimentos. Caso contrário, novas intervenções poderão se repetir com frequência.