Julgamento de Bolsonaro: entenda as implicações políticas e internacionais do processo no STF

O julgamento de Bolsonaro no STF coloca em xeque o futuro do ex-presidente e as relações com os EUA. Entenda as implicações políticas e internacionais deste processo.

O julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) coloca em xeque não apenas o futuro do ex-presidente brasileiro, mas também a relação entre Brasil e Estados Unidos. A ação, que apura a suposta participação de Jair Bolsonaro em uma tentativa de golpe de Estado, emerge em um cenário de crescente polarização política e pressão internacional.

A dimensão internacional do julgamento

Apesar de ser um processo doméstico, o julgamento de Bolsonaro despertou atenção global, especialmente por conta do envolvimento do presidente americano, Donald Trump. Especialistas afirmam que a postura de Washington tem ampliado a dimensão externa do caso, seja por meio de declarações públicas em defesa do ex-presidente brasileiro, seja por medidas econômicas e diplomáticas.



Em julho, Trump classificou o processo como uma “caça às bruxas” e impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos EUA — a maior taxa entre os países sobretaxados. Além disso, o governo americano aplicou sanções contra ministros do STF com base na Lei Magnitsky, alegando violações de direitos humanos. Essas ações refletem uma postura claramente alinhada ao ex-presidente brasileiro.

Quem são os réus no processo?

O julgamento de Bolsonaro envolve outros sete réus que fizeram parte de seu governo. Entre eles estão três generais do Exército, além de ex-ministros e altos escalões da segurança nacional:

  • Augusto Heleno (ex-ministro do GSI)
  • Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa)
  • Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil)
  • Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin)
  • Anderson Torres (ex-ministro da Justiça)
  • Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro)
  • Almir Garnier Santos (ex-comandante da Marinha)

Todos negam as acusações, que incluem liderança de organização criminosa, tentativa de golpe de Estado e danos ao patrimônio público.



O papel de Donald Trump

Trump tem se posicionado repetidamente contra o julgamento de Bolsonaro, alegando perseguição política. Seu governo também pressiona por mudanças na legislação brasileira sobre redes sociais, acusando o STF de emitir “ordens de censura secretas”. Essas declarações são vistas por especialistas como uma tentativa de interferir no processo judicial brasileiro.

Para Luciana Veiga, professora da UNIRIO, Trump age por “empatia” com Bolsonaro, imaginando-se na mesma situação caso a Justiça americana o perseguisse com a mesma intensidade. A influência do presidente americano, no entanto, tem gerado mais desgaste do que benefício à imagem do ex-presidente brasileiro.

Impacto nas relações Brasil-Estados Unidos

As medidas tomadas pelos EUA — como tarifas e sanções — têm afetado a percepção pública no Brasil. Pesquisas indicam que a popularidade de Bolsonaro vem diminuindo, com 52% dos brasileiros acreditando que ele participou de um plano de golpe de Estado. Além disso, 55% consideram justa sua prisão domiciliar.

Steven Levitsky, professor de Harvard, afirma que a atual interferência dos EUA é “personalizada e arrogante”, caracterizando-a como uma política externa de “república das bananas”. Apesar disso, as instituições brasileiras têm resistido melhor às pressões externas do que as americanas em situações semelhantes.

Possíveis consequências de uma condenação

Segundo especialistas como Silvio Cascione, da consultoria Eurasia Group, é provável que o STF condene Bolsonaro e os demais réus. “A dúvida não é se haverá condenação, mas sim o tamanho da pena”, afirma.

Uma condenação pode levar a novas retaliações dos EUA, como mais sanções ou aumento nas tarifas. Além disso, a pressão externa pode influenciar decisões internas, como a possibilidade de indulto presidencial em caso de mudança de governo em 2026.

O indulto como possibilidade

O indulto é uma prerrogativa do presidente da República prevista na Constituição brasileira. Embora já tenha sido concedido no passado, alguns perdões foram anulados pelo STF. A pressão dos EUA pode alterar o cálculo político dentro do Supremo, especialmente se um candidato alinhado a Bolsonaro vencer as eleições de 2026.

Conclusão

O julgamento de Bolsonaro não apenas define o futuro político do ex-presidente, mas também testa a resiliência das instituições brasileiras frente a pressões internacionais. Com o olhar do mundo voltado para Brasília, o desfecho do processo terá repercussões domésticas e externas de grande importância.