A Nova Tendência de Magreza na Moda e as Proibições no Reino Unido
O Reino Unido acaba de registrar um fato preocupante para a moda e a saúde pública: campanhas publicitárias que apresentam modelos com uma aparência considerada “excessivamente magra” foram proibidas por serem prejudiciais. A Autoridade dos Padrões de Publicidade (ASA) está vigilante, reforçando os limites éticos que a indústria deve seguir.
Esta não é uma simples mudança de tendências. Especialistas alertam que estamos diante de um potencial retorno do chamado “heroin chic”, um estilo que dominou as passarelas nos anos 90 e início dos 2000, marcado pela magreza extrema. Este movimento recente levanta sérias questões sobre os padrões corporativos impostos pela moda.
O Que Aconteceu no Reino Unido?
Em julho deste ano, a marca Marks & Spencer (M&S) teve sua campanha banida. Não por apresentar um modelo com problemas de saúde, mas porque a pose da modelo foi interpretada como intencionalmente magra demais, contrariando as diretrizes da ASA. Este caso foi seguido por outros envolvendo Zara e Next.
Em 2024, a ASA recebeu 61 reclamações sobre imagens de modelos consideradas muito magras. No entanto, só analisou oito casos como válidos. O órgão de fiscalização ressalta que, apesar dos números parecerem baixos, o tema merece atenção especial, especialmente considerando a crescente popularidade de injeções para perda de peso que só podem ser adquiridas com receita médica.
O Que é o ‘Heroin Chic’?
O termo “heroin chic” surgiu nos anos 90 para descrever um estilo marcado por modelos extremamente magras, pálidas e com olheiras, lembrando o uso de drogas como heroína. Esta estética parece estar ressurgindo com força.
Campanhas nas ruas e postagens nas redes sociais como “inspiração para a magreza” são consideradas tão preocupantes quanto os anúncios tradicionais. O TikTok até bloqueou recentemente pesquisas sobre o termo “skinnytok”, acusado de promover a idolatria pela magreza extrema.
As Opiniões dos Especialistas
A modelo e ativista Charli Howard, expulsa de uma agência por não estar magra o suficiente, acredita que “estamos prestes a ver o retorno da heroin chic”. Para ela, contratar modelos que “parecem não estar bem” é profundamente perturbador.
Charlotte Holmes, Miss Inglaterra em 2012 e professora de ioga, vê isso não como progresso, mas como repetição: “O corpo ‘ultrafino’ sempre foi o padrão silencioso para modelos. Termos como heroin chic mostram como ideais prejudiciais podem ressurgir rapidamente”.
O Papel das Injeções para Perda de Peso
Victoria Moss, consultora de moda, sugere que o atual contexto vai além da simples moda. “A magreza passou a ser considerada um imperativo moral de saúde, impulsionado pelo fervor dos medicamentos para perda de peso”, explica.
O fenômeno das injeções emagrecedoras, com remédios cada vez mais populares, tem influenciado o que consideramos “normal” no corpo humano. Celebridades como Kim Kardashian e Oprah Winfrey também enxugaram significativamente, reforçando a ideia.
Corpo Diverso é Fundamental
Simone Konu-Rae, professora de comunicação de moda, reforça que, embora reconhecer a diversidade corporal seja importante, “ser extremamente magro não está necessariamente de volta à moda”. Para ela, a questão não é a saúde individual, mas a representação:
O problema não é o fato de as modelos não serem saudáveis, mas que essa não é a norma para muitas pessoas, e tentar alcançar esse tipo de corpo pode ser prejudicial.
O movimento de positividade corporal dos anos 2010 foi um avanço significativo, mas parece que a moda está oscilando de volta a padrões ultrapassados. Especialistas enfatizam que mostrar mais diversidade corporal é fundamental para deixar claro que o estilo não precisa custar sacrifícios desnecessários com a imagem corporal.
Conclusão: A Responsabilidade das Marcas
O debate destacou a importância de as empresas assumirem suas responsabilidades. A Autoridade dos Padrões de Publicidade reitera sua posição: “os anunciantes devem garantir que não apresentem uma imagem corporal não saudável como aspiração”.
Chioma Nnadi, diretora da Vogue Britânica, destaca a necessidade de representação: “Pensar nas modelos que podemos ter em nossos ensaios fotográficos é muito importante”. O desafio para a moda é equilibrar tendências com responsabilidade, celebrando a diversidade sem promover padrões prejudiciais.
O retorno da magreza na moda, seja intencional ou influenciado por tendências externas, exige que todos os envolvidos no setor reconsiderem os padrões estéticos impostos. A saúde e o bem-estar devem ser prioritários sobre qualquer visão de beleza específica.