O Monte Sinai, local sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos, está no centro de uma polêmica internacional. O Egito planeja transformar a região em um resort de luxo, o que levanta sérias preocupações sobre a preservação cultural e ambiental do local.
O valor histórico e religioso do Monte Sinai
Conhecido localmente como Jabal Musa, o Monte Sinai é tradicionalmente considerado o lugar onde Moisés recebeu os Dez Mandamentos. Além disso, tanto a Bíblia quanto o Alcorão mencionam a sarça ardente neste local. Ao lado da montanha, encontra-se o Mosteiro de Santa Catarina, o cristão em uso contínuo mais antigo do mundo, fundado no século VI.
Este complexo histórico e espiritual é administrado pela Igreja Ortodoxa Grega e inclui uma pequena mesquita fatímida, simbolizando a convivência entre religiões. Em 2023, a Unesco reforçou sua preocupação com a preservação do sítio, diante do avanço das construções.
Plano turístico gera polêmica
Desde 2021, o governo egípcio desenvolve o Projeto de Transfiguração, que prevê a construção de hotéis de luxo, vilas, centros de visitantes e até um teleférico até o topo do Monte Sinai. Embora o governo apresente o projeto como um “presente para o mundo”, ativistas e especialistas questionam sua sensibilidade cultural.
Ben Hoffler, escritor britânico especializado em viagens, afirma que o desenvolvimento foi imposto aos beduínos sem consulta. “Isso não é desenvolvimento como os Jebeleya pediram, mas sim uma imposição para servir interesses externos”, declarou à BBC.
Impacto sobre os beduínos
A tribo beduína Jebeleya, conhecida como “Guardiões de Santa Catarina”, vive na região há séculos. No entanto, casas e acampamentos ecológicos foram demolidos, e até túmulos foram removidos para dar lugar a novas infraestruturas. A comunidade, composta por cerca de 4.000 pessoas, não teve voz nas decisões.
- Demolições sem compensação
- Remoção de túmulos para construção
- Exclusão dos beduínos do mercado de turismo
Mohannad Sabry, jornalista egípcio, compara a situação com a construção de Sharm el-Sheikh nos anos 1980. “Os beduínos eram os guias e trabalhadores. Com o turismo industrial, foram empurrados para o interior.”
Reações internacionais e pressão diplomática
A Grécia, devido à ligação histórica com o Mosteiro de Santa Catarina, tem se posicionado ativamente. Após decisão judicial egípcia que afirma que o mosteiro está em terras estatais, o arcebispo Jerônimo 2º de Atenas declarou: “Este farol espiritual enfrenta uma ameaça existencial.”
Apesar disso, uma declaração conjunta entre Egito e Grécia prometeu proteger a identidade ortodoxa do local. No entanto, a construção continua, ignorando recomendações da Unesco de interromper os empreendimentos até que um plano de conservação seja elaborado.
Chamados globais à preservação
Em julho de 2024, a World Heritage Watch enviou uma carta aberta à Unesco pedindo que Santa Catarina fosse incluída na Lista de Patrimônios Mundiais em Perigo. Além disso, o rei Charles III, patrono da St Catherine Foundation, chamou o local de “grande tesouro espiritual” que deve ser preservado.
Perspectivas econômicas e desafios
O governo egípcio justifica o projeto como forma de revitalizar a economia turística, afetada pela pandemia e pela instabilidade regional. O objetivo é atrair 30 milhões de visitantes até 2028. No entanto, a falta de envolvimento das comunidades locais e o descaso pelas recomendações internacionais colocam em risco a sustentabilidade do projeto.
Portanto, enquanto o Monte Sinai se transforma em um destino turístico moderno, suas raízes espirituais e culturais enfrentam uma batalha pela sobrevivência. A decisão sobre o futuro do local pode definir se o Egito enxerga o turismo como uma oportunidade de preservação ou destruição.