Nepo kids no Nepal: como a ostentação de jovens privilegiados desencadeou uma crise política

Descubra como os nepo kids no Nepal, filhos de políticos que ostentam luxo, desencadearam protestos violentos e uma crise política no país.

O Nepal vivenciou, em setembro de 2025, uma onda de protestos sem precedentes, impulsionada pela exposição pública dos chamados nepo kids — filhos e netos de autoridades que ostentam um estilo de vida de luxo em um país onde a pobreza é generalizada. Essa contradição alimentou a revolta da juventude e desencadeou manifestações violentas nas ruas do país.

O que são os nepo kids?

O termo nepo kids refere-se a jovens que acumulam riqueza e status graças às conexões familiares com figuras políticas ou influentes. No Nepal, esse fenômeno tomou proporções políticas e sociais alarmantes. Vídeos e fotos desses indivíduos exibindo carros de luxo, roupas de grife e viagens internacionais viralizaram nas redes sociais, especialmente no TikTok, sob a hashtag #nepokids.



Além disso, essas postagens não apenas expunham o contraste entre o privilégio da elite e a realidade da maioria da população, mas também geraram indignação popular. “A revolta contra os nepo kids no Nepal reflete a profunda frustração pública”, afirma Yog Raj Lamichhane, professor da Universidade Pokhara.

Geração Z à frente dos protestos

A liderança dos protestos coube à Geração Z, composta por jovens nascidos entre 1995 e 2009. Esse grupo, nativo digital, utilizou as redes sociais como principal ferramenta de mobilização. Eles organizaram campanhas online para expor a hipocrisia dos políticos e exigiram maior transparência sobre a origem das riquezas acumuladas por figuras públicas.

Portanto, quando o governo tentou bloquear o acesso a plataformas como Facebook, Instagram e TikTok, a reação foi imediata. A medida foi vista como uma tentativa de calar vozes críticas, o que intensificou ainda mais a revolta. Os manifestantes passaram a usar aplicativos como Viber e WhatsApp para continuar se organizando.



Cenário de crise e violência

Entre os dias 8 e 9 de setembro, o Nepal mergulhou no caos. Manifestantes incendiaram prédios governamentais, incluindo a sede do Parlamento e a Suprema Corte. Casas de políticos, como a do ex-primeiro-ministro Jhala Nath Khanal, também foram atacadas. A polícia reagiu com força, usando gás lacrimogêneo e balas de borracha, o que resultou em pelo menos 19 mortes na primeira noite de protestos.

Diante da pressão popular, o primeiro-ministro Khadga Prasad Oli renunciou. No entanto, os protestos continuaram. Civis foram vistos portando armas, e o aeroporto internacional de Katmandu teve que ser fechado temporariamente devido à fumaça dos incêndios.Hotéis como Hilton e Varnabas também foram danificados.

Contexto socioeconômico

  • Um em cada cinco nepaleses vive na pobreza.
  • Os 10% mais ricos do país ganham mais de três vezes o que recebem os 40% mais pobres.
  • O desemprego entre jovens de 15 a 24 anos atinge 22%.
  • O Nepal está na lista da ONU dos 44 países menos desenvolvidos do mundo.

Esses dados ajudam a entender por que a ostentação dos nepo kids provocou tamanha indignação. Enquanto muitos jovens são obrigados a deixar o país para trabalhar no exterior e sustentar suas famílias, outros vivem em total desconexão com a realidade nacional.

Quem lidera agora?

Após a renúncia do primeiro-ministro, o presidente Ram Chandra Poudel assumiu a condução do país. Um nome que ganhou popularidade entre os manifestantes foi Balendra Shah, ex-rapper e prefeito de Katmandu. Ele chamou a atenção por defender a juventude e criticar o governo anterior com dureza, mas pediu calma após a renúncia de Oli.

“Agora a sua geração terá que liderar o país! Preparem-se!”, escreveu Shah em suas redes sociais, reconhecendo o papel crucial da Geração Z na transformação política do Nepal.

Conclusão

Os nepo kids não foram apenas o estopim dos protestos, mas também um símbolo do abismo entre a elite política e a população. A revolta popular demonstrou que a juventude nepalesa não aceita mais a impunidade e a desigualdade. Portanto, o movimento pode ser um divisor de águas na história política do país.