Na 80ª Assembleia-Geral da ONU, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, protagonizou um dos discursos mais polêmicos de sua carreira. Mesmo isolado na ONU e diante de uma plateia reduzida, Netanyahu manteve sua postura firme, desafiando aliados ocidentais e rejeitando a pressão pela criação de um Estado palestino. O evento ocorreu em 26 de setembro de 2025, em Nova York, e foi marcado por reações intensas de líderes globais, além de um boicote de várias delegações ao plenário.
Isolamento internacional e discurso de resistência
Após a debandada de delegações, Netanyahu na ONU se viu diante de um cenário de hostilidade generalizada em relação às ações de seu governo em Gaza. No entanto, isso não o impediu de traçar uma linha de resistência dura. O primeiro-ministro israelense rejeitou veementemente a reconhecimento da Palestina como Estado, considerando a proposta como “pura loucura” e um risco existencial para Israel. “Não permitiremos que nos enfiem um Estado terrorista goela abaixo. É insano e não faremos isso”, declarou.
Além disso, o discurso de Netanyahu na ONU foi estruturado de forma teatral, com gráficos, um teste de múltipla escolha e até a exibição de um cartaz de reféns. O primeiro-ministro usou também um broche com QR Code, direcionando a atenção do público para informações sobre o ataque de 7 de outubro, evento central de sua narrativa de defesa das ações de Israel.
Transmissão direta para a Faixa de Gaza
Em uma decisão inédita, mesmo diante de resistência de setores do Exército israelense, Netanyahu ordenou que seu discurso fosse transmitido por alto-falantes em toda a Faixa de Gaza. A medida visava alcançar os 28 reféns ainda vivos e os combatentes do Hamas, a quem o primeiro-ministro apresentou uma possível saída para o conflito. “Se o Hamas concordar com nossas exigências, a guerra pode acabar agora mesmo. Gaza seria desmilitarizada, Israel manteria o controle de segurança, e uma autoridade civil pacífica seria estabelecida”, afirmou.
Essa estratégia, no entanto, também revelou a preocupação de Netanyahu em se comunicar diretamente com a população de Gaza e com os integrantes de grupos armados, a fim de minimizar o impacto de pressões internacionais. Portanto, o discurso não se limitou a um público diplomático; foi também uma jogada de propaganda de guerra.
Crítica a aliados ocidentais e apoio de Trump
Um dos pontos mais marcantes de Netanyahu na ONU foi a crítica direta aos aliados ocidentais. Ele acusou líderes europeus e de outros países de cederem a pressões de “mídia tendenciosa, de grupos islâmicos radicais e de multidões antissemitas”. “Dar um Estado palestino a uma milha de Israel é como dar um Estado à al-Qaeda ao lado de Nova York”, comparou, de forma intencionalmente provocativa.
Apesar de estar isolado entre os aliados tradicionais, Netanyahu contou com o apoio de Donald Trump. O ex-presidente americano, que o recebeu pela quarta vez desde seu retorno à Casa Branca, elogiou diversas vezes o discurso de Netanyahu. No entanto, o relacionamento entre os dois líderes está sob tensão, devido à postura de Netanyahu em relação à Cisjordânia. Trump, impaciente, deixou claro que se opõe a qualquer tentativa de anexação da região: “Isso não acontecerá! Já chega”, afirmou.
Plano de paz de 21 pontos e desafios futuros
Trump tem pressa para pôr em prática seu plano de paz de 21 pontos, que visa estabelecer uma solução de longo prazo para o futuro de Gaza. Contudo, o sucesso dessa iniciativa depende de dobrar Netanyahu, que até agora demonstra relutância em abrir mão de posições radicais. A anexação da Cisjordânia, defendida por setores da base de Netanyahu, ameaça romper com os Acordos de Abraão, patrocinados pelos Estados Unidos, e pode gerar reações severas de líderes árabes.
Netanyahu na ONU expôs mais uma vez as divisões dentro da política internacional sobre o futuro de Israel e Palestina, aprofundando o impasse que já dura décadas. Enquanto o primeiro-ministro israelense se mantém firme em suas posições, o mundo aguarda por um caminho que pareça viável rumo a uma paz duradoura.
