Poliandria na Índia: Tradição, Controvérsia e Casamento Incomum entre Irmãos

A poliandria na Índia gera debate ao unir uma noiva a dois irmãos em uma cerimônia tradicional. Entenda os costumes, a controvérsia e os direitos envolvidos.

Imagens de uma poliandria na Índia provocaram forte repercussão nas redes sociais recentemente. Em uma cerimônia realizada em julho, Sunita C se casou com dois irmãos, Kapil N e Pradeep N, em uma aldeia do Himalaia. O evento, incomum em um país onde a poligamia e a poliandria são ilegais, gerou debate nacional sobre tradição, direitos e identidade cultural.

O Caso Que Virou Polêmica

A cerimônia ocorreu em uma comunidade tribal conhecida como hatti, localizada nos estados de Himachal Pradesh e Uttarakhand. A poliandria na Índia é uma prática rara e historicamente associada a grupos específicos que preservam tradições únicas. Embora ilegal para a maioria da população, as comunidades tribais possuem certa autonomia para manter seus costumes.



Além disso, o governo indiano reconheceu oficialmente os hattis como “tribo registrada” em 2023, concedendo-lhes acesso a benefícios sociais e cotas em instituições públicas. Portanto, mesmo com a ilegalidade geral, essas comunidades podem manter práticas como o casamento entre irmãos e uma única esposa.

Rituais e Tradições Distintas

Os casamentos hattis, conhecidos localmente como jodidara ou jajda, diferem significativamente dos rituais hindus tradicionais. A noiva e os noivos trocam votos diretamente, sem dar sete voltas em torno do fogo sagrado. Além disso, a própria noiva conduz a procissão até a casa do noivo, invertendo o papel tradicional.

  • Troca de votos direta, sem voltas rituais
  • Procissão liderada pela noiva
  • Decisões familiares por consenso

Essas tradições surgiram como resposta ao ambiente hostil e à escassez de terra arável na região. Assim, manter a propriedade familiar unida evitava a fragmentação da herança entre muitos herdeiros. No entanto, em tempos modernos, a prática se tornou mais rara devido ao avanço da educação e à influência da urbanização.



Direitos das Mulheres: Escolha ou Exploração?

A notícia da poliandria na Índia dividiu opiniões. Defensores da prática alegam que ela fortalece os laços familiares e preserva a cultura. Eles também destacam que as mulheres têm liberdade para aceitar ou abandonar o casamento. No caso de Sunita, ela declarou publicamente que a decisão foi voluntária.

No entanto, críticos questionam se a tradição é compatível com os direitos humanos modernos. Organizações de defesa das mulheres afirmam que a prática pode levar à exploração e pressionar as mulheres a terem mais filhos.

“Esta prática incentiva a exploração das mulheres e viola seus direitos fundamentais”, declarou Mariam Dhawale, secretária-geral da Associação Democrática das Mulheres da Índia.

Apesar da controvérsia, os envolvidos no caso afirmam que a união é baseada em respeito mútuo e responsabilidade compartilhada. Pradeep N declarou: “Este relacionamento reflete nossa fé na tradição e a responsabilidade compartilhada de cuidar uns dos outros.”

Poliandria em Outras Culturas

A poliandria na Índia não é uma exclusividade dos hattis. Outras comunidades também adotaram práticas semelhantes ao longo da história. Por exemplo:

  • Kinnauris, no Himalaia, que praticam a poliandria fraterna
  • Mosuo, na China, com “casamentos andantes”
  • Bororos, na Amazônia brasileira
  • Maasais, no leste africano

Mesmo assim, muitas dessas tradições foram se perdendo com o tempo ou foram proibidas por leis modernas. A poliandria, apesar de rara, continua a provocar debates sobre identidade cultural, direitos humanos e a evolução das estruturas familiares.

Conclusão

A poliandria na Índia é um exemplo de como práticas antigas podem coexistir com leis modernas em contextos específicos. Embora controversa, ela reflete a complexidade das tradições culturais e o desafio de equilibrar direitos humanos com heranças locais. O caso de Sunita e seus dois maridos ilustra não apenas uma cerimônia incomum, mas também um debate mais amplo sobre escolha, pertencimento e identidade em sociedades em transformação.