Protestos da Geração Z no Peru: motivações, evolução e impacto político

Protestos da Geração Z no Peru mobilizam milhares de jovens contra reforma da previdência e anistia. Entenda as causas e os desdobramentos.

Os protestos da Geração Z no Peru têm mobilizado milhares de jovens e outros setores da sociedade, colocando em xeque a estabilidade política do país. O movimento, que começou de forma espontânea, rapidamente ganhou força e visibilidade devido à ampla insatisfação com o governo de Dina Boluarte e com o Congresso.

Origem dos protestos

Os protestos da Geração Z no Peru surgiram como resposta à reforma da previdência aprovada pelo Congresso em meados de 2024. A nova legislação obriga trabalhadores autônomos a contribuir com o sistema público de aposentadorias, ao mesmo tempo em que limita o valor que jovens com menos de 40 anos podem sacar antecipadamente. Essa medida afetou diretamente jovens que já enfrentam dificuldades econômicas, como estudantes e microempreendedores.



Um movimento espontâneo, mas organizado

Inicialmente, os protestos da Geração Z no Peru não tinham liderança centralizada. A mobilização ocorreu por meio de convocações nas redes sociais, o que demonstra a capacidade de ação imediata de um grupo nativo digital. Além disso, a geração Z, nascida entre 1995 e 2010, utilizou símbolos como a letra Z e a bandeira pirata de One Piece, uma série de anime que retrata uma luta contra a opressão.

Expansão do movimento

Com o tempo, os protestos da Geração Z no Peru passaram a reunir também outras demandas sociais. Um dos principais pontos foi a crescente insatisfação com a falta de segurança pública, a atuação da polícia e o aumento da criminalidade. Motoristas de transporte público e pequenos empresários começaram a se juntar aos manifestantes, ampliando a base de apoio ao movimento. Segundo a Associação Nacional de Integração do Transporte, 46 motoristas foram assassinados nos últimos meses, o que gerou indignação popular.

Conexão com protestos internacionais

Além disso, os protestos da Geração Z no Peru têm inspiração em mobilizações semelhantes em outros países. O especialista em Relações Internacionais Ramiro Escobea destaca que a queda de governos em países como Nepal e Indonésia influenciou os manifestantes peruanos. Omar Coronel, da Pontifícia Universidade Católica do Peru, afirma que a vitória dos jovens nepaleses inspirou a população peruana a acreditar que mudanças são possíveis, mesmo em cenários políticos complexos.



Críticas ao governo e à anistia

Outro fator que intensificou a insatisfação foi a promulgação da Lei de Anistia em agosto de 2024. A lei beneficia militares, policiais e membros de comitês de autodefesa investigados por crimes de direitos humanos cometidos entre 1980 e 2000. A medida gerou sensação de impunidade, o que reforça a percepção de autoritarismo do governo de Dina Boluarte. Segundo Coronel, isso agrava a crise política e alimenta a indignação de diferentes gerações de opositores do governo.

Objetivos dos manifestantes

Os manifestantes não têm uma pauta unificada, mas exigem a revogação da reforma da previdência e criticam a atuação da polícia. No entanto, à medida que o movimento ganha força, a exigência pela destituição da presidente Dina Boluarte tem sido levantada. Em entrevista, o estudante Jorge, que participa dos protestos, declarou: “O descontentamento é total entre os jovens. O que se busca é derrubar o governo e o Congresso e promover uma reforma no país. As mesmas cabeças corruptas que nos levaram a essa situação não podem ser as que vão conduzir a reforma.”

Repressão e desdobramentos

As manifestações, especialmente a mais recente, ocorrida em 28 de abril, resultaram em confrontos violentos com a polícia. Agentes de segurança agrediram manifestantes e profissionais de imprensa. O Conselho da Imprensa Peruana denunciou que ao menos 20 jornalistas foram atacados durante a cobertura dos protestos. Um vídeo viral mostrou um policial agredindo um idoso com um cassetete, o que gerou indignação nas redes sociais. A polícia anunciou investigação por suposto uso arbitrário da força.

Qual o futuro dos protestos?

Apesar das repressões, os protestos da Geração Z no Peru tendem a continuar. A aproximação das eleições de 2025 reforça a importância política do movimento. Omar Coronel acredita que a continuidade dependerá de ações de massa semelhantes às que levaram à renúncia do presidente Manuel Merino em 2020. Contudo, o medo da repressão ainda persiste após os eventos de 2023. Por outro lado, a crescente adesão de diferentes grupos sociais indica que a mobilização pode se tornar um movimento de massa com potencial de mudança política.

  • Reforma da previdência gera descontentamento entre jovens;
  • Trabalhadores de transporte se unem à causa;
  • Lei da anistia intensifica a sensação de impunidade;
  • Confrontos com a polícia aumentam a tensão;
  • Protestos têm inspiração internacional, especialmente no Nepal.

Em conclusão, os protestos da Geração Z no Peru representam a insatisfação de uma juventude consciente de seus direitos e de sua força de mobilização. A crise política e social no país, agravada pela impunidade e pela repressão, coloca os jovens na linha de frente de uma batalha que pode definir o futuro do Peru.