Reforma Dados Fed e Escândalo de Dados
O Presidente Donald Trump intensificou sua política econômica com duas ações significativas na sexta-feira, 1º de agosto de 2025. Primeiro, demitiu Erika McEntarfer, diretora do Departamento de Estatísticas do Trabalho (BLS), após o lançamento de um relatório de emprego que mostrou uma desaceleração inesperada no mercado de trabalho. Segundo, aproveitou a renúncia antecipada da governadora do Fed Adriana Kugler para avançar na pressão sobre o Federal Reserve.
A demissão de McEntarfer ocorreu logo após a divulgação do relatório mensal de emprego. O governo Trump acusou a funcionária, nomeada pelo ex-presidente Joe Biden, de suposta manipulação de dados, embora sem apresentar evidências concretas. Alegações infundadas que afetam a credibilidade dos dados econômicos federais merecem uma análise cuidadosa, como veremos adiante.
Crise nos Dados Econômicos
O relatório do BLS revelou uma criação de apenas 73 mil empregos em julho, abaixo das expectativas dos economistas. O que chamou mais a atenção foram as revisões drásticas para baixo dos dados dos meses anteriores. Os números ajustados mostraram uma perda de 258 mil vagas em maio e junho, transformando esses meses na pior sequência de resultados desde o início da pandemia de COVID-19.
Um funcionário da administração Trump, que pediu anonimato, destacou preocupações legítimas sobre a qualidade dos dados econômicos. Embora existam variações normais nos números estatísticos, a Casa Branca expressou insatisfação com o tamanho das revisões recentes e a queda na taxa de resposta às pesquisas. Segundo este funcionário, problemas subjacentes acumularam-se desde a pandemia e não foram resolvidos.
As agências estatísticas enfrentam desafios operacionais sérios. A coleta de dados para o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) foi reduzida devido a limitações de recursos. A pesquisa de emprego, que analisa cerca de 631 mil locais de trabalho, teve sua taxa de resposta cair de 80,3% em outubro de 2020 para aproximadamente 67,1% em julho.
Impacto nos Mercados
Estas duas ações de Trump tiveram efeitos imediatos nos mercados financeiros. O índice S&P 500 caiu 1,6%, registrando sua maior perda diária em mais de dois meses. Esse movimento ocorreu no contexto de um novo pacote de tarifas proposto por Trump e dos dados econômicos fracos.
Analistas como Ian Lyngen e Vail Hartman do BMO Capital Markets explicam que o relatório de emprego mais fraco e as revisões negativas colocaram a possibilidade de cortes de juros em setembro novamente na pauta. Esta é uma mudança significativa na visão do mercado sobre a trajetória de política monetária do Fed.
“Politizar estatísticas econômicas é um ato autodestrutivo. A credibilidade é muito mais fácil de perder do que de reconstruir.” – Michael Madowitz, economista-chefe do Roosevelt Institute
O Controle Antecipado sobre o Fed
A renúncia surpresa de Kugler criou uma oportunidade única para Trump influenciar o Fed antes do previsto. A governadora deixará o banco central ao final da próxima semana, permitindo que Trump nomeie um novo governador para completar seu mandato até 31 de janeiro de 2026.
Esta nomeação representa um passo importante na luta de Trump por controle sobre o Federal Reserve. O presidente já ameaçou demitir Jerome Powell, presidente do Fed, por não reduzir os juros conforme deseja. Embora o mandato de Powell termine em maio de 2025, ele permanecerá no conselho até 31 de janeiro de 2028, se quiser.
Analistas especulam que Trump pode usar esta vaga como uma espécie de “reserva” para um futuro presidente do Fed. Candidatos possíveis incluem Kevin Hassett, Scott Bessent, Kevin Warsh e Chris Waller, atual governador nomeado por Trump.
Apesar de Trump afirmar que não planeja demitir Powell, a pressão sobre o Fed continua intensa. A possível nomeação de um novo governador pode levar a mudanças mais amplas na direção da política monetária.
Um Novo Modelo de Governo
Estas duas ações – demissão de uma alta funcionária técnica e pressão antecipada sobre o Fed – sugerem um novo modelo de governança econômica sob a liderança de Trump. O foco parece estar na imposição de padrões ideológicos na condução da política econômica, mesmo onde a expertise técnica não é diretamente visível.
No entanto, especialistas aconselham cautela. A manipulação intencional de dados econômicos, conforme sugerido pelas ações de Trump, poderia ter consequências negativas sérias. A credibilidade dos dados estatísticos é fundamental para todas as decisões econômicas, tanto no setor público quanto privado.
“Cegar o público sobre o estado da economia tem um histórico conhecido — e nunca termina bem,” alerta Michael Madowitz. O desafio para a administração Trump será equilibrar as demandas políticas com a necessidade de dados econômicos precisos e confiáveis.