Desde o início do seu terceiro mandato, em janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem colocado as relações internacionais no centro da sua agenda política. Com uma diplomacia presidencial ativa, o Brasil busca protagonismo em fóruns multilaterais e articula parcerias estratégicas, especialmente com os países do Brics. No entanto, o governo brasileiro atualmente enfrenta atritos significativos com três nações: Estados Unidos, Israel e Venezuela.
Semelhanças nos atritos internacionais
Apesar das diferenças contextuais, os conflitos com esses três países têm pontos em comum. Primeiramente, há uma falta de diálogo direto entre os líderes. Lula não conversa com Donald Trump desde a posse deste, em 2025. Da mesma forma, a comunicação com Benjamin Netanyahu e Nicolás Maduro também chegou a um impasse.
Críticas e ataques recíprocos
Além disso, os três países têm direcionado críticas ao Brasil. Trump vinculou a crise comercial à situação judicial de Jair Bolsonaro, acusando o Brasil de realizar uma “caça às bruxas”. Netanyahu chamou Lula de “apoiador do Hamas”, enquanto Maduro acusou o país de não auditar suas eleições. Em todos os casos, o governo brasileiro reagiu com firmeza, defendendo a soberania nacional e a transparência institucional.
Pressão por acordos e cumprimento de promessas
Outro ponto comum é a exigência do governo brasileiro pelo cumprimento de acordos internacionais. Com a Venezuela, o Acordo de Barbados previa eleições transparentes; com Israel, a entrada de ajuda humanitária em Gaza; e com os EUA, a renegociação das tarifas impostas unilateralmente. Em todos os casos, o Brasil tem utilizado canais diplomáticos e organismos multilaterais, como a OMC, para pressionar por respeito às normas internacionais.
Diferenças nas origens dos atritos
Embora haja semelhanças, cada conflito possui motivações distintas. Os atritos com os Estados Unidos têm origem principalmente em disputas comerciais, mas com fortes componentes políticos ligados à perseguição a Bolsonaro. Lula afirma que está aberto ao diálogo, desde que os assuntos se limitem ao comércio bilateral.
Já com Israel, o atrito é de natureza diplomática e ideológica. Em 2024, Lula comparou os atos de Israel em Gaza ao genocídio nazista. O governo brasileiro reafirma a condenação ao Hamas, mas também denuncia os excessos cometidos pelas forças israelenses. Isso resultou na retirada dos embaixadores de ambos os países.
Por fim, com a Venezuela, o desentendimento é de natureza política. Lula exigiu a transparência nas eleições de 2024, após Maduro ser declarado vencedor sem divulgação das atas. A resposta foi o rompimento do diálogo diplomático e a retirada do embaixador venezuelano de Brasília.
Estratégias diplomáticas diferenciadas
O governo brasileiro tem adotado abordagens distintas para cada caso. Com os EUA, buscou canais técnicos e políticos, como reuniões entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado Marco Rubio. Contudo, a ausência de um embaixador nomeado por Trump tem dificultado avanços.
Em Tel Aviv, o Brasil mantém apenas um encarregado de negócios, o que simboliza formalmente o ressentimento bilateral. Já com a Venezuela, a estratégia foi mais clara: declarar publicamente a “quebra de confiança” e reforçar a postura pró-democracia.
Consequências dos atritos internacionais
Essas tensões têm gerado impactos concretos. Com os EUA, o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros entrou em vigor parcialmente, e ministros do STF foram alvo de sanções. Com Israel, houve o rebaixamento das relações diplomáticas. E com a Venezuela, o rompimento da aliança política com Maduro.
Um novo momento para as relações internacionais do Brasil
Segundo especialistas, como o professor Amâncio Jorge (USP), o Brasil está vivendo um “momento novo” em suas relações internacionais. A postura mais assertiva de Lula pode ter benefícios internos, mas também limita o espaço para negociações. Além disso, o país pode ter assumido compromissos que extrapolam sua capacidade atual de mediação internacional.
Em conclusão, os atritos com EUA, Israel e Venezuela revelam uma nova fase da diplomacia brasileira: mais ativa, porém exposta a riscos geopolíticos. O desafio agora é manter a defesa da soberania sem isolar o Brasil no cenário internacional.