O governo Trump lança relatório que minimiza mudanças climáticas: uma avaliação autoritária
O Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE), sob a liderança do secretário Christopher Wright, um entusiasta da indústria fóssil, publicou recentemente o documento intitulado “Uma análise crítica dos impactos das emissões de gases de efeito estufa no clima dos Estados Unidos”. Este relatório representa uma tentativa de redefinir a narrativa científica sobre as mudanças climáticas, minimizando a gravidade dos impactos das emissões humanas no aquecimento global.
Este novo documento surge no contexto da retomada das políticas antiambientais da administração Trump, marcada pela revogação de regulamentações climáticas e pela busca por relaxar as regras ambientais para favorecer a indústria de combustíveis fósseis. Esta não é a primeira vez que o governo Trump tenta deslegitimar a ciência climática, mas sim um esforço mais elaborado e “científico” em aparência.
Principais conclusões do relatório criticado
O relatório, com 130 páginas, foi elaborado por um grupo de cinco cientistas conhecidos por suas posições céticas em relação ao consenso científico sobre o aquecimento global. Entre eles, nomes como Judith Curry e Steven Koonin, frequentemente citados por organizações que promovem o negacionismo climático.
A voz ativa é essencial para deixar claro o que este documento realmente afirma. O relatório não questiona a existência do aquecimento global, mas sim minimiza sua intensidade e atribui menos importância às emissões humanas como fator determinante:
- O dióxido de carbono (CO₂) não deve ser considerado um poluente, uma vez que promove o crescimento vegetal e melhora a produtividade agrícola (o chamado “global greening”). Esta é uma interpretação muito limitada da complexidade dos ecossistemas e dos impactos do CO₂ atmosférico excessivo.
- Os modelos climáticos seriam “exageradamente sensíveis” ao CO₂ e “inadequados” para prever o futuro climático. Esta afirmação ataca a base metodológica da quase totalidade das projeções climáticas, ignorando os inúmeros estudos que validam a robustez desses modelos.
- A maior parte dos eventos climáticos extremos nos EUA não apresentaria tendência de aumento ligada às emissões humanas. Esta conclusão contradiz evidências abrangentes que mostram um aumento claro desses eventos correlacionado às mudanças climáticas.
- O aumento do nível do mar está dentro da média histórica e seria influenciado principalmente por fatores locais. Esta visão minimiza o papel da mudança climática global nos níveis do mar, um dos principais impactos documentados pela ciência.
- O impacto de políticas dos EUA sobre o clima global seria “indetectável”. Esta afirmação ignora a magnitude das emissões americanas e a importância de acordos internacionais como o Acordo de Paris.
Além disso, o relatório critica duramente o uso do cenário RCP8.5, considerado o mais extremo das projeções climáticas, como base para políticas públicas. Esta é uma tentativa de deslegitimar cenários futuros críticos que orientam a preparação e adaptação.
Cientistas que desafiam o consenso
Todos os autores do relatório já têm reputações construídas em torno de desafiar o consenso científico dominante:
Judith Curry, frequentemente citada em audiências republicanas, é conhecida por minimizar os riscos do aquecimento global em seus comentários públicos.
Steven Koonin, ex-conselheiro científico, escreveu um livro intitulado “Sceptical Approaches to Climate Change” (Abordagens Céticas às Mudanças Climáticas), onde critica o que considera alarmismo climático.
John Christy e Roy Spencer, da Universidade do Alabama, são conhecidos por contestar dados de aquecimento global com base em medições por satélite, frequentemente apresentando interpretações seletivas dos resultados.
É importante notar que, embora esses cientistas possuam direitos seus, o relatório foi encomendado pelo governo e reflete uma posição política, não científica.
Críticas e reações à publicação
O relatório recebeu imediatamente respostas preocupadas da comunidade científica e de instituições acadêmicas. Organizações como a Union of Concerned Scientists (UCS) destacaram que o documento ignora ou distorce evidências amplamente aceitas pela comunidade científica internacional.
Rachel Cleetus, diretora de política climática da UCS e coautora da Avaliação Nacional do Clima dos EUA, declarou: “Este é um plano para promover combustíveis fósseis, não para proteger a saúde pública, o bem-estar ou o meio ambiente.” Sua observação resume perfeitamente as críticas ao documento.
Diante das críticas, o porta-voz do DOE, Ben Dietderich, tentou defender o relatório, afirmando que “avalia criticamente investigação científica em andamento” que recebe alta confiança de órgãos políticos. Esta defensiva, no entanto, não responde às falhas científicas identificadas pelo consenso maior.
Uma ferramenta política, não científica
Ao analisarmos o contexto mais amplo, fica evidente que este relatório não é uma contribuição científica neutra, mas sim uma ferramenta política para desacreditar a ação climática. Este padrão não é novo na administração Trump:
- Em seu primeiro ato, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris, tratado fundamental para as negociações globais sobre clima.
- O atual diretor da Agência de Proteção Ambiental (EPA) anunciou a revogação de 31 regulamentações ambientais, incluindo regras cruciais sobre mudanças climáticas.
- Cientistas climáticos foram demitidos em agências como o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), prejudicando diretamente a capacidade do país de monitorar e prevenir eventos climáticos extremos.
O objetivo declarado pelo governo é promover o que eles chamam de “debate científico honesto”, mas a intenção real parece ser enfraquecer as bases científicas das ações climáticas em nome de interesses econômicos de curto prazo.
Esta não é uma nova tentativa de negacionismo climático, mas sim o novo capítulo do negacionismo climático oficial nos Estados Unidos. Ao minimizar a urgência e os impactos das mudanças climáticas, o governo Trump busca abrir espaço para políticas que favorecem a indústria de combustíveis fósseis, muitas vezes em detrimento do bem-estar público e da saúde do planeta.