Reunião entre Lula e Trump: riscos e desafios para líderes estrangeiros em Washington

A possível reunião entre Lula e Trump traz riscos diplomáticos e políticos. Entenda os desafios para líderes estrangeiros ao lidar com o presidente americano.

Uma possível reunião entre Lula e Trump levanta importantes questionamentos sobre como líderes estrangeiros devem se preparar para encontros com o presidente americano. A possibilidade de um encontro presencial entre os dois líderes foi levantada após um breve abraço e algumas palavras trocadas durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York, no dia 23 de setembro.

Por que uma reunião presencial pode ser arriscada?

Apesar de tradicionalmente vistas como oportunidades de fortalecer laços diplomáticos, reuniões em Washington com Donald Trump podem se transformar em verdadeiras armadilhas, de acordo com especialistas. O estilo de Trump de conduzir negociações diante das câmeras já levou à humilhação pública de líderes estrangeiros, como Volodymyr Zelensky (Ucrânia) e Cyril Ramaphosa (África do Sul).



“O histórico de Trump de confrontar líderes em posições de desacordo demonstra que qualquer encontro presencial com Lula seria altamente arriscado”, afirma o historiador político Matthew Dallek, da Universidade George Washington. A volatilidade de Trump, somada à tensão bilateral entre Brasil e Estados Unidos, aumenta o risco de situações embaraçosas ou até destrutivas para a diplomacia brasileira.

As críticas de Trump ao Brasil

Trump tem sido especialmente crítico em relação ao Brasil de Lula. O presidente americano impôs tarifas comerciais e sanções em resposta ao julgamento de Jair Bolsonaro, aliado ideológico de Trump. Além disso, o governo americano anunciou recentemente novas sanções contra familiares de ministros brasileiros, como Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, e a empresa LEX – Instituto de Estudos Jurídicos.

Portanto, o clima entre os dois países está longe de ser favorável. O historiador Dallek ressalta que Lula é um dos líderes globais mais vigorosos em defesa da soberania brasileira, o que aumenta a probabilidade de uma reunião tensa.



Exemplos recentes de encontros tensos

  • Em fevereiro, Zelensky foi confrontado e acusado de ingratidão durante uma reunião com Trump, com ameaças de corte de ajuda durante a guerra com a Rússia.
  • Em maio, Ramaphosa foi surpreendido com a exibição de vídeos de acusações infundadas de genocídio contra seu povo, durante visita à Casa Branca.

Como os líderes se preparam?

As embaixadas e governos costumam se mobilizar de forma intensa antes de uma reunião presidencial com Trump. A preparação envolve consultores, lobistas e especialistas em negociações de alto risco. Além disso, há uma estratégia de alinhamento prévio com os interesses do presidente americano, a fim de evitar confrontos públicos.

Apesar disso, o risco permanece. Como explica Dallek, “Trump muda de humor rapidamente, e o que é elogiado hoje pode ser criticado amanhã”.

Como responder a Trump sem perder a dignidade?

Os líderes precisam equilibrar a necessidade de manter a dignidade de seus países com o risco de ofender Trump publicamente. Em muitos casos, a estratégia de elogios exagerados e respostas diplomáticas tem funcionado. A visita de Mark Carney, primeiro-ministro do Canadá, é um exemplo: quando Trump falou em transformar o Canadá no 51º estado, Carney respondeu com firmeza, mas de forma diplomática.

Benefícios possíveis de uma reunião

Mesmo com os riscos, a reunião entre Lula e Trump pode abrir portas para negociações econômicas estratégicas. O Brasil oferece recursos críticos e alavancas de influência no cenário global, o que pode ser de interesse para os Estados Unidos. No entanto, como destaca o professor de Relações Internacionais Vitelio Brustolin, a discussão política é o verdadeiro calcanhar de Aquiles, pois é inegociável.

Conclusão: o dilema de Lula

Em conclusão, a reunião entre Lula e Trump apresenta um cenário de alto risco, mas também de potenciais recompensas. A imprevisibilidade de Trump e seu histórico de confrontos públicos exigem que o Brasil desenvolva uma estratégia de negociação cuidadosa, a fim de proteger sua soberania, sem parecer submisso. Se mal conduzida, a reunião pode ser mais danosa do que benéfica. No entanto, se bem planejada, ela pode abrir novos caminhos para a relação bilateral.